Vida Rural - Por L.R.
Lugar isolado, bem distante das cidades.
Belas e altas montanhas, pastagens verdes onde repousam e se alimentam as criações. Um conjunto harmonioso de árvores projeta-se ao longo do declive.
Algumas casinhas salpicam a paisagem. Pintadas de branco, janelinhas verdes, fumaça saindo vagarosamente pelas chaminés, imprime à paisagem aquela tranquilidade rural.
Manhãzinha em que alguma névoa ainda teima em permanecer no fundo, lá na planície, cobrindo um regato.
Depois de uma noite fria o despontar de um novo dia vem trazer os raios quentes, amarelo-ouro, e a luz alegre invade tudo, inebriante, formidável, correndo atrás das sombras, e tomando conta do céu azul, onde nuvens, poucas, passeiam descontraidamente em flocos brancos e desordenados.
O frescor da manhã, o aroma do café recém-coado, a água límpida da mina que jorra em borbotões, vem lavar também o rosto, o corpo de Carmela, a camponesa. Ela também agora recendendo a alfazema, vem cuidar de seus irmãozinhos pequeninos, dois menininhos, de cabelos negros, lisos, e que fazem a maior festa na água, estremecendo e rindo a lavar seus rostos e suas mãos e eles se enlaçam um ao outro e se respingam , molhando os cabelos de Carmela que ri e os retira um a um com cara de brava, sem, contudo estar. Depois de feita a primeira refeição junto com a mãe e com o pai, este agora arruma seu bornal, pega sua enxada e sai para o trabalho no campo, enquanto os quatro familiares acenam para ele e cada uma agora vai cuidar de sua labuta diária.
Para a mãe, são os filhos pequenos o motivo de sua atenção, enquanto os têm junto a si, brincando ora de carrinhos feitos de restos de madeira, bem rústicos e artesanais, ora com pedrinhas e frutas secas, fantasiando cenas rurais, ela lava a roupa na mina, estende em seus varais que se penduram ao longo da casinha e troca alguma prosa com outras camponesas que por ali moram e vem com ela conversar de vez em quando. .
Carmela por sua vez se afasta, andando, atravessa a cerca que separa sua casa dos currais e é por lá que vai até às criações, algumas vacas que se encontram no retiro para ordenha. Então o seu trabalho é esse, vai retirar o leite delas, alimento indispensável para a família.
Depois volta com o balde repleto do leite espumoso e quente e se dirige a casa e ajuda a sua mãe nos trabalhos domésticos, até chegar a hora do descanso.
Seu pai no campo está roçando, vai plantar o milho. A temporada de chuva lhe é propícia então não quer demorar mais. A terra úmida lhe proporciona um trabalho mais rápido e fácil. Está contente e de vez em quando olha para o céu azul, limpa o suor da testa, ajeita o chapéu e continua sorridente seu trabalho.
Diogo é seu nome, pai de família camponesa, sempre no campo, nunca saiu dali, vive para os seus, mal sabe ler e escrever, sonha que seus filhos irão agora frequentar a escolinha rural, perto da capela.
Israel, Brian e Carmela precisam estudar. Ora, aqueles três inteligentes! Ela até já pensa em ir para a cidade. “Se pensa que eu vou deixar, está muito enganada! Rosália não aguentaria de preocupação. Que nem eu! Acho melhor que ela fique por aqui. Mas creio que ela não irá, desistirá de seus planos. Oliver com certeza se interessará por ela. Ele ama o campo e se casarem tenho certeza que será feliz aqui”.
Rosália em casa conversa com Carmela:
_ Filha, está tão pensativa, que se passa?
_ Mãe, Estou apaixonada por Oliver. Queria muito ir para a cidade, mas não quero me separar dele, mas não sei se ele gosta de mim. Ele me olha, mas não me procura para conversar, será por quê?
_ É filha, somos simples sitiantes. O Sr. Antonio não irá querer que seu filho case com uma camponesa.
Carmela, olha sua mãe sem entender. Como, mãe? Não basta simplesmente gostar para ficar junto?
_Filha, você não conhece a vida. As diferenças, às vezes, estão no dinheiro. Oliver deve temer o pai.
_ Carmela com os olhos arregalados, procura entender. Depois olha para a sua casa, seus irmãos pequenos, a mãe, bela e jovem ainda, mas com as mãos bem estragadas, lembra seu pai, forte, corajoso, trabalhador e pobre e diz.
_ Está bem, mamãe! Não entendia o amor, mas vejo a vida que a Sra. leva com meu pai. Somos felizes apesar de pobres. Se for assim não irei mais me preocupar se ele ficará ou não comigo. Procurarei esquecê-lo. Vou procurar alguém pobre como nós. Ficarei aqui com vocês, com meus irmãozinhos. Está decidido!
Saiu para caminhar e pensar.
À noite, falou com o pai:
_ Não quero ir mais para a cidade, pai, nem quero saber do Oliver, quero ficar com vocês, sou feliz aqui.
_ Sabe, filha! Sr. Antonio me procurou. Disse que o filho está com boas intenções. Ele a ama!
_Virão amanhã, ambos, para pedi-la em casamento. Eu disse que falaria com você primeiro.
Carmela, então ficou de boca aberta, olhou a mãe. Uma grande interrogação. Serei feliz?
Afinal, será que o dinheiro não importa e sim o amor?
_ Seu pai continuou.
_ Sr. Antonio disse que me tem muita estima. Quer que você aceite. Disse que poderei administrar uma parte de suas terras.
_ Não sei se aceitarei. Preciso pensar.
No outro dia à noite chegou Sr. Antonio e Oliver. Rosália chamou Carmela. Sr. Antonio a cumprimentou com orgulho, seguro de si. Oliver lhe pediu para conversarem lá fora. Os dois se olharam como nunca. Carmela estava tranquila. Disse para ele:
_ Pensei que você não me quisesse porque eu sou pobre.
_ Oliver disse. Não me importo! Mas conversei com meu pai e chegamos a um acordo. Seu pai poderá mudar daqui, vender o sítio e ajudar a administrar parte das terras de meu pai. Eu a amo! Dará tudo certo!
_ Carmela disse. _ Eu também pensei. Mas não quero me casar agora, quero pensar melhor. É cedo ainda. Depois sei que há uma diferença grande entre você e eu. Não sei se eu me acostumaria com sua vida. Sou muito simples.
Oliver não acreditou no que ouvia. Disse:
_ E meu pai querendo oferecer-lhes vida melhor. Voltou, e chamou o pai para ir embora.
Carmela os seguiu com os olhos. O pai pensou que a filha estava sofrendo. Ele por sua vez nunca pensaria em aceitar a proposta mas não lhe diria nada. Ela decidiria o destino de sua família.
Ela entrou no quarto, e olhou em torno com amor. Pensou: Têm vergonha de nós! Queriam comprar nossa felicidade!
Na manhã seguinte estava ela, sorridente, lavando o rosto dos meninos, ajudando na ordenha, colaborando com a mãe, e sabendo ter feito a escolha certa, correu feliz pelos campos.
Criado por Lavínia Ruby em 22/06/10. mariegracev


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