28 de setembro de 2021

Seu Sonho Pode Esperar

 

Seu Sonho Pode Esperar - Por L.R.

 

Havia muitos dias que saía de casa de manhã bem cedinho e andava incansavelmente atrás de emprego.

Já mandara seu currículo e se inscrevera em diversas agências à procura, porém, estava impaciente porque precisava muito e não havia recebido nenhum retorno.

Resolveu que deveria adiar realizar seu ideal de trabalhar como jornalista, mas decidiu ela mesma ir procurar na fonte. Porém, não adiantou. O que mais ouvia era: _ Deixe seu currículo. Já cansada de procurar, resolveu aceitar o que aparecesse e naquele dia estava com sorte. Surgiu uma oportunidade de trabalho.

Era para ser ascensorista em um prédio onde funcionavam vários escritórios.
Para quem havia se formado em jornalista com a oportunidade de estar se locomovendo para cá e para lá buscando informações, realmente se enjaular entre quatro paredes não seria muito agradável, mas, quando acordou para seu primeiro dia de trabalho sentiu uma sensação de utilidade e suspirou fundo, sorriu e pulou da cama e se arrumou com esmero, contente e decidida a encarar a experiência do primeiro emprego com entusiasmo, armou-se com muita força de vontade.

Assim chegou ao local e assumiu sua função (depois de rápida instrução do síndico) acomodando-se no seu banquinho de trabalho, enquanto o elevador se enchia e as pessoas a espremiam um pouco e diziam os números dos andares- cinco, oito, dez, dezoito, cinco, dez, treze, quinze, três, vinte, doze e a porta se fechava e lá iam eles. Eram pessoas bem vestidas, homens engravatados, mulheres elegantes, bem maquiadas, bem penteadas, advogados, empresários, clientes de escritórios, funcionários diversos, alguns de uniformes, outros representantes comerciais, alguns de jaleco branco e esporadicamente subia ou descia uma ou outra criança.

Míriam até que gostou de estar ali observando as pessoas. Dentro era agradável, com ar condicionado, mas tinha um inconveniente, era enfadonho e nada confortável ficar o dia todo sentada no banquinho.

Passaram-se os dias, quatro meses e quinze dias contados nos dedos.

Ela ainda continuava lá. Já se acostumara (sem se conformar e sonhando em trabalhar como jornalista). Nos períodos livres escrevia várias crônicas e contos sobre aqueles personagens que desfilavam perante ela no elevador.

Estava tão sonhadora um dia, distraída, no “mundo da lua”, fazia automaticamente seu trabalho, quando ouviu o alarme de incêndio tocar. Houve um tumulto tão grande, um barulhão, uma correria, o elevador de repente quando abriu, entrou tanta gente se espremendo, apavorada, seus rostos contraídos e ela fechou a porta quase prendendo mãos e braços desesperados, e apertou o botão do térreo e o elevador foi descendo enquanto pessoas contavam alteradas sobre o fogo que se alastrava no décimo oitavo andar.

Assim que ela abriu todos saíram precipitadamente e Míriam acionou o elevador e subiu sozinha até o décimo oitavo. Quando abriu a porta muitas pessoas entraram aos empurrões enquanto a fumaça invadia o corredor. Míriam viu que algumas não conseguiram entrar e gritavam pedindo para ela voltar e assim fez várias vezes até que foi impedida de subir pelo perigo a que se expunha pelos bombeiros que agora já estavam em posição para controlar o incêndio.

Míriam começou a dar entrevista para os repórteres que ali estavam, narrando o que havia presenciado, e assustada e cansada, retornou a casa. No dia seguinte, o prédio interditado, ela não retornaria, aquela experiência já havia bastado. Ligou a TV. Ainda falava-se no incêndio. Viu ela mesma sendo entrevistada e outras pessoas relatando e dizendo a coragem da ascensorista. Quando ela saía de sua casa alguém vinha felicitá-la. Então ela mesma escreveu sobre ele, e revivendo aqueles momentos Míriam concluiu que talvez o fato dela estar trabalhando ali e ele ter ocorrido naquela ocasião era seu destino estar naquele local para ajudar as pessoas.

O que aparecesse para fazer agora na sua vida aceitaria de coração.

Quem sabe até ser jornalista. Conhecida era já ficara.



Criado por Lavínia Ruby e 24/04/10. mariegracev

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