Segunda Opção - Por L.R.
Joana era a mãe de Sandra.
Joana era muito trabalhadeira.
Ela possuía um carrinho de cachorro - quente e juntamente com o seu marido ganhava algum dinheiro que dava para as despesas.
Sandrinha era uma menina muito bonita, tinha sete anos e estava na 1ª. Série do Ensino Fundamental. Ia muito bem na escola, já estava alfabetizada.
Joana admirava sua filha. _Ela é muito inteligente dizia, e dava-lhe sempre que podia muitos livrinhos para ler.
O tempo foi passando. Sandrinha crescia e ajudava a mãe na venda de cachorro - quente. Seu pai ficara doente e havia falecido, pois, fumava muito e contraiu um câncer. Seus pulmões não aguentavam mais. Estavam arruinados pelo vício que não abandonou nem mesmo quando os médicos o alertaram que corria risco de vida. Poucas eram suas chances de cura.
Sandra dividia seu tempo entre a escola e ajudar a mãe a vender cachorro - quente, mas agora também vendiam sanduíches vários, preparados com antecedência em casa para oferecerem mais opções para a clientela. Com o passar do tempo eles se afastavam um pouco do comércio ambulante e frequentavam lugares mais sofisticados.
Sandrinha já estava na sétima série e estudava à noite. Depois da aula ainda ia fazer algum trabalho rapidamente para poder entregar os livros na biblioteca no tempo marcado ou renová-los. Às vezes, havia poucos livros e grande procura pelos mesmos, então ficava mais difícil. Havia aprendido computação, mas o tempo que passava na LAN HOUSE não dava para tanta coisa.
Depois quando conseguiu terminar o Primeiro Grau, sua mãe estava extenuada de tanto mexer com cachorro - quente e resolveu ser diarista.
Sandrinha achava que ser diarista não era para ela. ELA ESTUDAVA ENTÃO PARA QUÊ?
Resolveu continuar no ramo dos alimentos e foi trabalhar de garçonete (sem registro em carteira) em uma lanchonete, depois que sua mãe vendeu o carrinho.
Porém, o Segundo Grau foi com trabalho suado que conseguiu concluir. Depois de chegar em casa cansada e ela e sua mãe olharem uma para a outra e suspirarem fundo, não tinham o que dizer.
Sandra então com sua experiência ambicionou algo maior. Trabalhar no Mc Donald’s, e conseguiu.
Gostava de vestir o uniforme que lhe caía maravilhosamente bem. Assim conseguiu terminar o Segundo Grau.
Estudava bastante, e depois de um ano de Cursinho passou no Vestibular de Direito. Escola Particular. Não era das melhores; queria uma pública, mas a concorrência para quem sempre estudou em escolas do estado era humilhante. Depois foi à luta por uma bolsa de estudos.
Com seu emprego no McDONALD’S conseguiu pagar as mensalidades, mas a mãe também ajudava, embora chegasse a atrasar e tinha que ficar negociando as dívidas, negociando a comida, negociando o aluguel.
Enfim, quando Sandra viu que o salário de garçonete não estava ajudando a mãe a cobrir os gastos, e sentia muita pena dela, que não aguentava mais as faxinas, conseguiu ser admitida para trabalhar na cozinha de um restaurante grã-fino.
Durante o tempo que lhe sobrava fazia vários cursos de gastronomia, oferecido pela própria rede desse restaurante.
Porém, a Faculdade era seu maior sonho, Advogada, tiraria o avental. Usaria salto alto, saias e blusas, conjuntos elegantes, se pentearia nos melhores cabeleireiros, aboliria definitivamente a toca de plástico, levaria seus processos em uma pasta, frequentaria os fóruns, defenderia os réus, os absolveria, e o seu escritório seria uma beleza. Não teria mais dificuldades financeiras. Futuro promissor.
Assim terminou a Faculdade. A festa de formatura não teve sua participação. Recebeu o Diploma, mas não teve dinheiro para os auês.
Restava a dívida da bolsa de estudos. Não teria problemas.
Estava no auge a sua vida no restaurante, com a sua experiência na cozinha, sua criatividade e sua delicadeza ao prepará-los, o restaurante estava fervilhando de clientes selecionados. O dono estava abrindo novas filiais e a convidou para CHEF de uma delas. Ela exultante, havia conseguido chegar ao topo. Ficava feliz, mas e a faculdade? Seu sonho de advogar?
Dedicada como estava na chefia da cozinha do novo restaurante, não dava tempo nenhum para estudar para as provas da OAB. Então, na primeira tentativa, fracassou, e continuou tocando a cozinha. Nova tentativa, novo fracasso. CONTINUOU TOCANDO A COZINHA. Nova tentativa, novo fracasso.
Aí não quis mais. Desistiu.
Criado por Lavínia Ruby em 26/05/10. mariegracev

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