28 de setembro de 2021

Soluções

Soluções - Por L.R.



O outono veio trazer para ela as recordações daquele ano de 1963, em que esforçava para conseguir resolver sua lição de Matemática.

Eram muitos problemas de um livro de capa amarela cujos resultados estavam registrados e eram conferidos um por um, à medida que eram desenvolvidos, não importava para ela o caminho que percorresse para consegui-los.

Naquela tarde, o sol de outono batia em cheio sobre a cama de seu quarto, e ela sentada em um banquinho, fazia suas lições em cima da cama.

Papai chamou:

_ Comprei bananas!

E a adolescente saiu correndo do quarto, com sua saia azul e blusa branca de uniforme, mas descalça, pois, na ansiedade de fazer os problemas nem trocara seu uniforme, e correndo até a mesa da cozinha pegou uma penca de bananinhas pratas, amarelinhas e levou-as para seu quarto, como se fosse uma macaca roubando sua comida, e escondeu-se novamente no quarto com a porta fechada, para voltar aos problemas que ocupavam sua tarde de outono.


Não estava pensando em mais nada.

Na sua inocência, nem passava pela sua cabeça que muitos outonos viriam, cada um diferente do outro, com problemas das mais difíceis soluções, que mesmo aqueles ali onde queimava seus neurônios para resolver, não daria respostas aos problemas futuros, um futuro que sempre se julga na juventude que não chegará a ter, porque o medo, o dia a dia, que parece terminar com o amanhã, os projetos que não existiam porque o mundo era outro, as coisas caminhavam mais devagar, a imaturidade reinava entre quase todos os colegas da mesma idade, o que se queria e com que se preocupava era somente os jogos e as festinhas da escola e a amizade descompromissada sem amor, para se falar abertamente de bonecas ainda, de coleção de contos de fadas e muito despreocupadamente de príncipe e princesa felizes para sempre.


O que ela pensava agora, porém, (ao parar de resolver todas aquelas contas, e escrever no canto de algumas páginas, um nome e um coração, sem contudo se envolver) era ao mesmo tempo um misturado de ideias, de lembranças, de histórias contadas, de personagens de assustar, personagens reais, murmúrios e vestígios de desavenças familiares, uma confusão de imagens e fatos, às vezes, tristes, às vezes, alegres.


Então os problemas que não chegavam às respostas contidas no livro eram apagados, e escritos e refeitos e sem solução, novamente com raiva, apagados, até um furo no papel.


_O que fazer?

_ Rir, chorar?

_ Como apresentar assim o caderno para a Madre Superiora e ela dizer:

_Menina, menina!

Perante a classe tentar resolvê-lo na lousa, frente às colegas, sem, contudo conseguir? Verdadeiro vexame!

Mas a vida não é matemática.

As soluções dos problemas são várias, não importa a que resultado você chegará.

De uma forma ou de outra a conclusão virá, certa ou errada, quem pode dizer com certeza?

Mas você, querida, não entendia que aquele buraco que conseguiste fazer em seu caderno para resolver um problema mais difícil, às vezes, é a resposta. Muita gente encontra a solução aí mesmo.


Escrito por Lavínia Ruby em 17/03/10. mariegracev


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