Todos Têm Sua Cara Metade - Por L.R.
A dor que sentiu quando sua mãe foi embora foi insuportável.
Estava desamparada, só, sem vontade de lutar pela vida.
Eram somente as duas. Sua mãe já havia anos que apresentava aquela doença de Alzheimer, não tinha mais noção de nada, e também era bem fraca, com diabetes.
Como era triste não poder conversar com ela, fazer com que ela a compreendesse. Era somente um sorriso que conseguia esboçar, olhando-a interrogativamente e falando coisas sem nexo. Poderia ter sido diferente, mas a vida quis assim.
Agora estava o lugar vazio em casa, sem ninguém para substituí-la, porque APESAR DE TUDO, mãe é só uma.
Havia em seu quarto, na sua sala, algumas fotos mas preferiu guardá-las todas, porque a dor de vê-las era muito grande.
Queria esquecê-la, pelo menos agora, recentemente, com feridas por cicatrizar.
Não sabe como retomou ao trabalho depois de uma licença de dois meses.
Na repartição pública onde exercia a função de secretária, cuidando de arquivos de pessoas e fichas de cadastro para contratação de funcionários, enfim, nos Recursos Humanos do Município, folheava essas fichas, preenchia dados no computador, e entre elas, uma chamou-lhe atenção pela foto que continha.
Era a de um rapaz contratado no último concurso e que ela nunca lhe havia prestado atenção.
Como naquele Departamento havia muitos funcionários e ela conhecia todos, verificou que ele trabalhava naquele andar, naquela mesma sala onde estava.
Curiosa, procurou à sua volta olhando disfarçadamente as pessoas por sob os óculos.
Havia na mesa ao fundo, um rapaz, o mesmo da foto da ficha: Martim Ferraz.
Na foto não parecia, mas ele era bem gordo.
Seus traços eram bonitos e notava-se simpático também, quando sorria com amabilidade para a pessoa com quem conversava.
Gostou da sua maneira de ser.
Pela ficha viu que há tempos havia sido contratado; foi no período que estava ocupada com sua mãe doente e ausentava muito e depois veio a licença.
Quis conhecê-lo e depois que o senhor saiu, levantou-se e foi até sua mesa e se apresentou. Travou-se o seguinte diálogo:
_ Olá, Martim! Sou sua colega Louise.
_ Muito prazer, Louise. Sinto muito por sua mãe. Os colegas comentaram comigo o que aconteceu. Fui contratado há dois meses.
_ Está no período de experiência. Mas com certeza será efetivado. Se precisar de ajuda não hesite em me chamar.
_ Pois não, Louise! Obrigada! Olhe, aqui já tem alguns problemas que não consigo resolver. Pode me ajudar?
_Pois não, Martim! É assim! Relacione todos os nomes nessas tabelas etc... etc...
Passaram-se os dias e no trabalho Louise pôde esquecer um pouco a ausência da mãe.
Martim a convidava para sair e ambos passeavam nos jardins, jantavam fora, dançavam, iam ao cinema.
Até que um dia Martim foi convidado por Louise para ir a sua casa para um jantarzinho romântico.
Ela queria ficar com ele, não queria mais ficar sozinha. Ele já estava trabalhando agora ao seu lado e tinha sido efetivado.
Era ótimo funcionário, bom amigo e ela estava apaixonada. Queria também que ele estivesse, mas tinha receio:
ELA NÃO ERA BONITA. NUNCA TINHA TIDO NINGUÉM. SUA MÃE SEMPRE DIZIA PARA ELA: _VOCÊ NÃO TERÁ SORTE NO AMOR! BELEZA É FUNDAMENTAL. E ELA TINHA VERGONHA DE SEU CORPO. FORA MARCADA DESDE A INFÂNCIA.
Mas depois do jantar, rolaram alguns beijos e abraços ardentes e ele a pediu em casamento e quando ela disse sim, ele respondeu:
_ Minha gordinha adorada!
Criado por Lavínia Ruby em 02/05/10. mariegracev

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