28 de setembro de 2021

Por Dinheiro, Vale Tudo!

 

Por Dinheiro, Vale Tudo! - Por L.R.

 


Abriu a porta de vidro que dividia o saguão do corredor daquele Hotel luxuoso. Este saguão todo iluminado, com lustres elaborados, era revestido de piso de granito creme onde sofás confortáveis castanhos comportavam alguns hóspedes lendo jornais, assistindo TV, ou a um canto, em um lugar mais reservado, acessando a Internet ou tomando drinks no bar.

O corredor largo, de tapete azul em contraste com as paredes em tom pastel, levou Dirceu ao seu escritório que ficava na porta ao fundo.

Ele a abriu e a fechou à chave, após, colocou a pasta cheia de dinheiro sobre sua mesa, depois deixou-se cair em uma poltrona, desabotoou o paletó, arrancou a gravata, arregaçou as mangas, descalçou os sapatos e depois relaxadamente ficou ali. Cabeça girando, recostada, olhos abertos fixando o teto. Doía-lhe a cabeça ainda pela pancada forte que levara há seis dias e o que sucedeu estava lhe causando desespero e medo.

O telefone tocou. Ele disse:

_ Droga! Outra vez! Não consigo pensar! Não me dão sossego!

Correu ao telefone, mas ele parou. Ficou ao lado aguardando que tocasse novamente. Dirceu foi até a janela, olhou a rua e novamente o telefone. Então atendeu. Uma voz do outro lado disse:

_ Alô! Se você não entregar o dinheiro até amanhã, seu filho morre! Vinte e três horas! Frente à estação! Leve o resgate de um milhão de dólares e encontre-me atrás do depósito.

_ Alô! Alô! E meu filho? Vocês o levarão?

Desligaram o telefone.

Dirceu desesperado. _Tenho que falar com a polícia. Mas eles estão ameaçando matar meu filho. Vigiando-me com certeza! Já levantei essa quantia. Vou entregar-lhes! Mas será que eles soltarão meu filho? Será que está bem? Meu Deus! Se Ana souber o que está acontecendo; ela não pode saber. Atacaram-me e o raptaram no estacionamento do Shopping. Devia ter procurado a polícia, mas ligaram-me em seguida ameaçando-me.

Responsabilizei-me por ele. Disse-lhe que está comigo, mas ela vai querer falar-lhe. Como inventar-lhe mais uma desculpa? O que farei?

O dia passou no maior nervosismo. Recebeu várias ligações cobrando o dinheiro. Deixaram-lhe ouvir a voz do pequeno no telefone. Ficou angustiado, tomado de revolta.

Enfim, ligou para a polícia. Confidencial. Sigiloso. Caso de sequestro.

Recebeu um policial a paisana em seu escritório. Foi tudo combinado. Entregaria à noite o dinheiro no local indicado. Se a criança não estivesse ali, seguiriam o sequestrador, caso contrário, o pegaria no local e o faria confessar e denunciar os cúmplices.

Na noite marcada Dirceu levou o dinheiro. Enquanto seguia lembrava-se do filho e do medo que lhe fizessem mal. Estava nervosíssimo. Foi de carro até perto da Estação! Esta ficava longe do Hotel, há uns quinze quilômetros. Era periferia, pouco movimento àquela hora. Ouvia-se o barulho dos trens chegando, poucas pessoas embarcando e desembarcando. À frente estava o depósito de carga. Era lá que deveria deixar o dinheiro.

E meu filho, meu Deus?

Desceu do carro, andou até lá com a pasta na mão. Será que os policiais estavam mesmo em seus postos? Não se via nada. De repente, dois homens encapuzados surgiram na sua frente, não se sabia de onde. Um estava com um garotinho pequeno que dormia em seu colo, pediram a pasta e Dirceu a entregou; rapidamente conferiram o dinheiro deixando o garoto no chão.

Estavam para fugir apontando a arma para Dirceu e o garoto, mas já estavam cercados pelos policiais. Não houve tiroteio. Via-se que estavam com muito medo. Eram dois jovens ainda, inexperientes. Dirceu abraçou seu filhinho chorando. Ele estava dopado. Todos se dirigiram para a Delegacia.

Dirceu agora mais tranquilo, porém, ainda preocupado. Seria melhor ligar para Ana e pedir para ela vir até ali e colocá-la a par de tudo. O garotinho agora estava acordando. O levaria ao médico. Parecia estar bem. Abraçou-o. Chamou-o papai, sorriu, conversou com ele como se nada tivesse acontecido.

O delegado estava interrogando os bandidos e Dirceu aguardava na ante - sala e já fazia tempo que estavam lá. Ele não conseguira falar com Ana, não atendia o celular, o fixo chamava e nada. Chegou a desconfiar dela.

De repente a porta se abriu. Dois policiais entraram trazendo outro bandido. Era o autor do sequestro. Havia matado Ana que também havia sido sequestrada e havia ficado o tempo todo prisioneira junto ao filho.


Criado por Lavínia Ruby em 21/05/10. mariegracev





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