Greve de Fome - Por L.R.
Há muitos dias ele estava sem comer.
Não sei por que havia resolvido fazer greve de fome.
Será porque Saulo era uma pessoa difícil de lidar, não consentia que lhe contrariassem? Por qualquer coisa já ficava de mal humor, tinha uma predisposição enorme a depressão, não se sentia amado, sentia que as pessoas o menosprezavam. Com certeza era para chamar atenção, porque há tempos, devido a sua personalidade muitos haviam se afastado dele, mas somente uma tia, irmã de seu pai que agora lhe fazia companhia, alertou os outros parentes narrando-lhes o que estava acontecendo.
_ Sem nenhuma culpa minha. Eu até que o suporto, eu até que o trato bem. Mas ele não quer conversar mais comigo. Fica muito quieto em um canto, parado, não se interessa por nada e agora já faz dias que não está colocando comida nenhuma na boca. Agora não quer nem mesmo tomar água. Talvez alguém o convença. Procurem conversar com ele. Acabará ficando doente. Depois teremos remorsos por não termos tentado ajudá-lo.
Um amigo que há tempos estava afastado, resolveu, sabendo disso, procurá-lo.
Foi até sua casa, a tia abriu a porta. Pelo menos três pessoas estavam lá no quarto. Uma prima e dois senhores mais velhos: um farmacêutico e um colega de trabalho que resolveu tentar convencê-lo a voltar para a fábrica. Ele, porém, olhava a todos com desdém e fitava o chão sem se importar com o falatório em volta, mas ao ouvir a voz do amigo recém-chegado, sobressaltou-se.
Sim, era ele, não tinha dúvida! Quanto tempo já fazia que não se viam. Adamo havia se afastado após aquele episódio em que o chamara de “amigo da onça”, pois Saulo lhe roubara a namorada. Agora só de ouvir sua voz sentia que precisavam conversar melhor, esclarecer certas coisas, não podiam mais continuar afastados, mas não lhe restava força, estava realmente entregue.
O que ouviu de Adamo é que:
_ Soube que estava deprimido, não quer se alimentar. Fiquei preocupado. Dizem que não quer falar com ninguém. Olhe, nossa amizade era muito importante para mim. Vamos esquecer o que houve. Eu já esqueci. Fiquei preocupado com você!
_ Agora eu sei o quanto fiz você sofrer. Estou sentindo na pele agora o que é ser corno. Cibele não está mais comigo. Sabe por que estou assim? Por causa dela. O que ela fez com você, está fazendo agora comigo. Me traiu vergonhosamente com o meu patrão. Vou ter que sair de lá da fábrica senão faço uma besteira.
_ É? Eu não sabia, mas bem feito para você. Estou vingado. Nos afastamos. Brigamos por causa dela. Era isso que ela queria. Mas quer saber? Ela que se dane. Será que vai fazer a mesma coisa com o chefe? Um dia vai se dar mal. O melhor a fazer é o desprezo. Esqueça! Siga em frente! Olhe, senti falta do amigo.
_ Eu também senti sua falta.
_ Esquece o que aconteceu.
E gritou:
_Tia! Traga um sanduíche daqueles bem grandes. E duas cervejas geladas. A greve de fome acabou.
Apertaram-se as mãos. Amizade resgatada. Eram amigos de muitos anos, continuariam sendo.
Criado por Lavínia Ruby em 21/07/10. mariegracev

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