27 de setembro de 2021

Herança

Herança - Por L.R.

 


 

Enquanto Ivan estava naquela rua deserta, com a lua enorme no céu, deixando as sombras das casas desenhadas no chão pensava como iria fazer para convencer seu irmão, que o havia ajudado na compra da sede daquela fazenda e acabara no fim, tendo direito a ela, pelo empréstimo que lhe fizera e ele na época não conseguira reembolsá-lo.

Sua mulher o atormentava todos os dias. Não gostava de seu irmão, e agora ficava indignada sobre o direito que ele adquirira da sede. E eram xingamentos sem fim todos os dias.

Ivan de cabeça quente, não queria indispor com seu irmão, mas também as melhorias que ele havia feito, não tiveram a participação de Sérgio.

Também sua mulher, com os filhos estudando e alguns pequenos, exigia que Sérgio despendesse todo seu dinheiro em casa.

Sérgio era trabalhador como Ivan, e também muito ambicioso. Isso ele mostrou ao tomar a frente dos herdeiros e lutar para ficar com boa parte das terras que acabaram comprando também dos outros, bem como a sede da fazenda. Motivo do empréstimo e da briga.

Como resolver a questão se Ivan podia pagá-lo, mas ele não queria vender?

A situação entre ambos estava cada vez mais crítica. Ivan também não podia vender sua parte ao Sérgio porque ele não tinha dinheiro para comprar, e todos os filhos entraram na briga, na luta de braço, um não querendo perder para o outro.

Muitas mágoas estavam causando para todos os irmãos, enfim, que sempre quiseram ver todos unidos e que agora mal se podia conversar sem instigar a família (bem entendido: mulher e filhos) e criar um clima de guerra.

Os outros irmãos; dois indiferentes, as irmãs sofrendo desgostosas e sem achar uma saída que não fosse conversar e perguntar:

_ E a saúde de vocês? Tudo por causa desse impasse! Depois não adianta nada! Será que alguém, mulher, os filhos irão administrar tudo isso? Venderão tudo na certa. A vida se foi. Perder tempo lutando, os dois, sem verem o produto de tudo isso.

Ivan pensava em como tudo começou. Por que desejar tudo isso? Aquelas terras... Será que realmente queriam a posse? O que fazer delas agora? E Sérgio também! Como trabalhar nelas? Com que dinheiro? Quem trabalhar nelas? Com que pagar? O que plantar? O quê? O quê? Aos poucos árvores frutíferas. Aos poucos, um cavalo... Aos poucos, algumas criações.

Quando aposentarmos, quem sabe até lá, não teremos forças, você, meu irmão, e eu, para brigarmos. A vida estará mais breve, as esposas mais conformadas e queixosas de dores nas pernas e nas costas e o trabalho com os netos. E nós dois iremos, se tivermos tempo, aproveitar para pescar naquele rio que um dia jogávamos pedrinhas quando crianças e que é de todos nós. E do governo.

Deixe o futuro, vivamos o presente, faça ouvido mouco às reclamações. Assim ele pensou. Só nós sabemos o nosso passado e o que fez com que ficássemos tão ligados à fazenda. Mas foi o presente que nos moveu a adquiri-la. O fato de não deixá-la cair na mão de estranhos à família. Preservar a tradição, a continuidade, porque realmente, se nós irmãos houvéssemos aberto mão de nossas terras, nossas vidas, nosso nome, nossa tradição, nosso status nessa cidadezinha onde o que importa são as famílias tradicionais que são a base que a forma, talvez estivéssemos diminuídos perante os outros, iríamos aos poucos sucumbindo, até desaparecermos.

Bem, continuaremos fazendo valer nossa continuidade. Até quando? Até não termos nenhum de nossos rebentos preocupados com isso. Esquecidos que fomos, ou simplesmente ignorarem que éramos no passado: família tradicional.


Criado por Lavínia Ruby em 16/03/10. mariegracev



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