28 de setembro de 2021

Revelação

Revelação - Por L.R.

 


 

As luzes já estavam acesas. Eram dezoito horas e meia.

As casas assobradadas, pintadas de cores variadas, rente às ruas, com jardineiras floridas nas sacadas antigas já estavam quase todas com as portas cerradas.

As ruas eram calçadas com paralelepípedos e os passeios estreitos que suportavam pequenos postes com seus lampiões de gás, davam um aspecto branco e azulado e um clima melancólico àquele ambiente. Aquelas ruas terminavam em uma praça onde se erguia uma igreja antiga em estilo barroco, contornada por um jardim bem cuidado. Nele se via aqui e ali, sentadas em bancos, algumas pessoas que preguiçosamente aproveitavam o ar fresco do anoitecer observando à sua volta algum transeunte e distraidamente olhavam o jardim, as casas, a igreja.

Um jovem loiro, alto, de seus dezessete anos, surgiu na rua pedalando sua bicicleta e parou frente à igreja, em seus degraus ali sentou-se.

Olhava para todo lado à procura de alguém. Ele parecia ansioso. Em seu rosto bonito, de seus olhos verdes uma expressão de angústia se sobressaía, e as mãos nervosas apertavam-se em uma expectativa impaciente.

Parecia bem tenso naquela espera.

Depois de algum tempo sentado, se levantou e subiu os degraus da igreja.

Quando estava no limiar da porta, alguém saiu de lá de dentro.

A pessoa certamente havia chegado antes e estava lá dentro rezando.

Era uma senhora já idosa, baixa, magrinha, cabelos brancos, curtos, rosto bondoso, sorriso franco que se abriu ao ver o rapaz.

Vestia uma saia preta e um casaquinho xadrez preto e branco de lã.

De sua blusa com babados na gola, sobressaía um camafeu bem bonito.

Era uma senhora distinta. Seus olhos também verdes encararam Romeu.

Ele abraçou a velhinha com muito carinho e o sorriso dela se molhou com suas lágrimas salgadas e o abraço foi carinhoso e doce.

Ela disse sussurrando:

_Vamos conversar lá dentro. Poderemos nos sentar e rezarei um pouco mais. Estou precisando!

E os dois de braços dados entraram e sentaram-se e começaram o seguinte diálogo;

_ Por onde andou, meu filho?

_ Oh! Vó, por aí, estou trabalhando agora.

_ Em que trabalha?

_ Em uma loja de artesanatos. Sabe? O turismo aqui é bem intenso. Estou vendendo vários objetos também nas feiras.

_ Por que não volta e continua os estudos?

_ Não retornarei mais àquela casa. Sinto saudades da mãe, mas não quero conviver mais com meu padrasto. Mamãe não devia nunca ter deixado meu pai. Ele está arrasado. Quero ficar junto dele, dar apoio. Há dias que parece não querer mais viver.

_ Eu disse para sua mãe que você é quem mais sofreria com a sua separação, mas ela não me escutou. Não quis mais ficar com Alberto, se apaixonou por Raul e não queria trair seu pai. Raul não merece a mínima confiança. Brigam muito, ela tem muito ciúmes. Estou muito infeliz de ver minha filha assim chorando e se definhando. Não sei como isso vai acabar.

_ Diga, Vó. Ele não é violento, é?

_Tenho medo do que possa acontecer. Ela já apanhou dele sim.

_ Isso não pode continuar. Vou falar com ele. Ele me paga.

_ Não, ela não vai te perdoar. Mesmo assim ela o ama.

_ Mas, temos que fazer alguma coisa.

_ Não pode e não deve fazer nada. Ela sim deve tomar uma atitude. Ela deve entender que errou.

_ Bem, tenho que ir. Não quero me demorar muito. Quer que a acompanhe?

_ Não filho. Não é necessário.

_ Mas mesmo assim iremos juntos.

Saíram da igreja e ele foi a pé conduzindo a bicicleta e a avó do lado.

Chegaram a um dos sobrados e ouviram gritos vindo lá de dentro.

Romeu disse para a avó trêmula:

_ Espere-me aqui.

E sem que ela pudesse impedir abriu a porta com um pontapé brutal e se jogou sobre o homem que no momento estava esbofeteando sua mãe, caída sobre o sofá.

Sua violência foi tanta que o derrubou, o esmurrou, o chutou e o deixou no chão desacordado.

Depois, o empurrou para fora da casa e o jogou escada abaixo.

Sua mãe só ouviu que ele gritava para ela.

_Vê o que você fez? Mereceu pelo que fez a mim, a meu pai.

E ela olhando-o bem nos olhos, disse o segredo que havia guardado toda a vida:

_Seu pai verdadeiro é ele!



Criado por Lavínia Ruby em 25/04/10. mariegracev


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