Recordação da Infância - Por L.R.
A porta foi aberta.
Mamãe estava ali.
E ela entrou.
Agora estava naquela sala, seu lar. Mamãe alta, magra, esbelta, elegante e sorridente para mim. Bela, muito bela na sua meia idade.
Recorda agora aquele dia, e como se sentiu segura junto dela, tão forte e protetora e nunca tão amada.
Havia quase derrubado a porta com pontapés e murros, com toda sua força, e gritos, e a porta trancada, impedindo a sua passagem, seu lugar seguro.
Havia-lhe rasgado na corrida seu vestido de algodão amarelinho com babadinhos na cava e que tanto gostava.
Subira vertiginosamente a escadaria com seus doze degraus, quebrados por um patamar, e se encontrava naquele pequeno alpendre, frente à porta azul, mas encurralada e desesperada.
Agora vinha à mente o que passara.
Estava conversando com sua coleguinha na casa de frente, do outro lado da rua. Casa grande, cheia de cômodos, onde se perdiam como em labirinto, e riam e se escondiam e se achavam, e brincavam sem compromisso com nada, nem com os moradores, que naquela hora estavam ocupados com seus afazeres ao lado da casa, e nem se preocupavam com elas, que se entretinham nas suas tagarelices sem importância, sobre bonequinhas, casinhas, panelas e joguinhos infantis, e quando, de repente, se viu sozinha dentro de casa sem a companheira que havia sido chamada pela madrinha. Ela ficou naquele quarto silencioso, só esperando, sentada na cama, com os brinquedos à sua volta, e foi esta demora de sua colega que a fez sair para procurá-la e se perder dentro daquela casa, e não sabia como sair, e foi ficando cada vez mais medrosa e chorona.
Não conseguiu gritar e foi andando devagar, olhando e procurando, até que viu a porta da cozinha e ali estava a saída. Então pensou em ir embora rápido para casa. Mas ele estava ali. Olhou-a com aquele ar feroz, ficou de pé, se aproximou devagar com a boca aberta, seu focinho úmido e brilhante, seus pelos reluzentes.
Ela pensou que ele estava preso na corrente, mas ele não estava. Ela foi caminhando devagar em direção à porta da saída e ele atrás. Ela tremia, e ele acompanhando seus passos, bem nos seus calcanhares, maior que ela. Quando se viu no corredor que dava para a rua larga, só queria era correr, mas suas perninhas não obedeciam, mas já fora, ao atravessar a rua, disparou em uma corrida louca com o cão atrás, ela gritando subindo as escadas e ele atrás, até que chegou frente à porta e ele saltando, saltando e ela socando a porta e gritando para ele parar.
E a salvação veio.
Mamãe ainda disse:
_ Ele só queria brincar, não morde!
Descrito por Lavínia Ruby em 25/03/10. mariegracev - Fato real -

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