Bem cedo.
Hoje rejeitou as sandálias e seus pés delicados tocaram o tapete macio. Saiu a passos vagarosos até o banheiro onde mergulhou a cabeça na água morna, olhou o rosto sereno e confiante no espelho embaçado.
Vestiu aquele simples, confortável e esvoaçante vestidinho branco e tomou a direção da porta da rua.
Queria sair silenciosa e deslizante por aí a ver o sol nascente.
Olhou o encanto dos prados verdejantes, o vento murmurante balouçando as folhas nos galhos das árvores. O perfume estonteante das flores nos jardins inebriavam-na. Seus olhos se deslumbraram novamente com o colorido azul, rosa e amarelo do cálido e divino sol. A emoção à flor da pele alva. Nos olhos lacrimosos, negros e brilhantes de fundo azulado, o anseio. No peito o suspiro e o soluço, mas nos lábios a graça do sorriso ao acompanhar a revoada irriquieta dos pássaros e o seu trinar alegre àquela hora da manhã. O espírito descansado pelo bom sono, pela ausência de preocupações, pela simplicidade do viver, pela sabedoria de encontrar-se consigo mesma, poderia levar Mage à doce convicção de que da vida nada se leva, então, mais necessário que tudo é o instante mágico presente, o caminhar ligeiro, agora quase correndo, abrindo os braços e abraçando o mundo, explorando os seus limites, amando profundamente a natureza que agora a envolve, fechando sobre ela, que se permite, sem medo, sem receio, tocar de perto os troncos, subir nos galhos das árvores, colher flores, coroar a cabeça, acompanhar o voo das borboletas e o caminho das formigas, pisar com seus pés descalços sobre as folhas secas que cobrem o chão, pisar na terra vermelha, deitar na grama e ali permanecer com os olhos fechados, não pensando absolutamente em nada, desviando de si as sombras, porque agora na pele o sol cada vez mais quente se levanta no céu procurando a menina, a descobre agora nua sobre a relva, rindo de si mesma, de sua loucura, mesclando-se ela própria com a natureza que a acolhe, permitindo-se caminhar livre sobre as pedras, explorar as grutas que lhe oferecem de bocas abertas os seus mistérios, penetrar nos seus espaços vazios enfeitados por estalactites, acariciar essas obras de arte do "Artista Maior."
"Mage! Você também é mágica. Como teve a idéia de tirar a roupa? Não sente frio aqui dentro? Vai mesmo entrar nessa água gelada, pura e cristalina que flui sobre as pedras lisas procurando o interior da caverna? Daqui você não pode ver o sol”.
"Sim, posso vê-lo! Uma fresta. Seus raios ainda me procuram. Iluminam o meu corpo nu, persegue-me com seu olho incandescente bem aberto, iluminando-me e descobrindo o que eu estou fazendo. Não quer deixar que eu me refugie nas sombras e eu também não quero. Só vim aqui para envolver meu corpo nessa água gelada, o que me dá prazer e aqui ficarei. Logo logo, a espera acabará. Sente? Cada músculo de meu corpo estremece, está molhado de suor, os meus cabelos também estão molhados, meus lábios brancos, um calor que sufoca”.
"Mergulho no lugar em que a fonte subterrânea forma uma lagoa, toco novamente o fundo como há muitos anos venho fazendo e depois retorno à superfície em busca do sol e me estendo nas pedras à espera”.
"Mage, você tem certeza de que será hoje? Há tanto tempo não o vê”.
"Sim, mas a minha recordação é pura e cristalina como a água”.
Seu olhar dirigi-se para a entrada da caverna.
"Ouço passos! Não, ele também não me esqueceu. De novo aqui está o meu amado. Saciará o meu desejo”?
Leonardo trás na mão o seu vestidinho branco. Um sorriso de censura nos lábios e um menear negativo de cabeça. Seus olhos mais puros e cristalinos que a própria água evidencia seu temperamento.
_Menina travessa! Vista-se!
Ainda não chegou a hora.
Retornam para casa de mãos dadas. Seu toque na sua pele reflete seu amor platônico.
Será que ele sempre a respeitará?
Escrito por Lavínia Ruby em 23/07/2017. mariegracev.

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