Ponto e Basta! - Por L.R.
Estava uma noite maravilhosa. Dessa em que a gente pensa que todo mundo pode ser feliz, apesar de tudo. Assim imaginava Irene dentro de seu vestido cor- de -rosa que comprara na véspera, exatamente para ser usado hoje, naquela festa. Bem, agora ela já havia completado seus dezoito anos.
Seria a primeira vez que iria a uma festa sozinha com as colegas.
O pai muito autoritário não deixava que ela saísse nunca e assim ela vivia sonhando com esse dia de liberdade. Agora ele não iria proibir mais. Ela estava bem crescidinha, e ele achava que havia exagerado um pouco ao segurar sua filha e ela não curtiu a sua adolescência como gostaria. Sempre presa em casa. Inocente como ela só. E isso nos dias de hoje quando toda jovem já havia tido experiências amorosas e a taxavam de quadrada. E ela ficava tão angustiada perante aos colegas, que sabendo o pai que ela tinha, não ousavam se aproximar. Até agora, em que ele a autorizara, com poucas amigas e todas já comprometidas com os seus namorados, ela quase ficou sem ir.
Irene, mesmo assim, tinha amizade com Simone e esta era o seu socorro nas horas de desespero e vontades incontidas de fugir de casa, de participar também. Com ela Irene desabafava suas mágoas e contava suas frustrações. Simone era extrovertida, mais velha, quatro anos a mais que Irene. Conheceram-se na biblioteca da Escola e Irene que agora se preparava para o Vestibular, tinha nela uma companheira também experiente que estava adiantada também no curso que Irene também pretendia. Seria fisioterapeuta.
Encontraram-se no portão de casa. Seguiram de táxi até o salão de festas. Eram vinte horas. Estava a maior animação na entrada. Muitos estudantes, todos bem vestidos, As garotas de lindos vestidos de todas as cores. Somente Irene de cor- de - rosa. Todos a observaram. Parecia uma flor desabrochando. Embora soubesse bonita, delicada, se achou ridícula naquela cor infantil, pois, as demais garotas estavam tão sensuais e seu vestido era de fato um modelo bem comportado, como ela. Depois de deixar que ela, finalmente, saísse pela primeira vez, as recomendações dos pais não se resumiram em ditar seu comportamento, mas também na roupa que deveria usar, e sua mãe havia caprichado no vestido relembrando o tempo em que ela era pequena e que usava babadinhos e rendinhas. Que situação ridícula para Irene.
Simone disse que era para ela não se importar com aquilo. Com o tempo eles se acostumariam que ela havia crescido, mas Irene com isso se intimidava e julgava-se inferior a todos. Porém, sentia apesar da tensão em que estava, um vislumbre de liberdade que não sentira nunca antes daquele momento.
O salão estava todo iluminado, enfeitado, e nas mesas e nos barzinho muitos conversavam animadamente, outros bebiam e rodeavam as garotas fazendo-lhes galanteios. Irene não estava acostumada àquilo, mas logo foi se sentindo à vontade.
A música começou às vinte horas, e todos começaram a dançar os ritmos modernos e Simone logo encontrou seus colegas de faculdade e formou um grupinho onde ela apresentou Irene como sua melhor amiga. Aproximaram-se também alguns casais e entre eles estava Astrid, uma colega sua também, com o seu namorado Moacyr. Este mal viu Irene, fez um comentário elogiando-a, o que fez Astrid olhá-la com ódio, pois, notou que ele se interessara por ela e isso não passou despercebido a ninguém.
Astrid o chamava para dançar, ele, porém, não tirava os olhos de Irene que se enrubescia e ficava sem jeito e quase queria ir embora. Simone disse que ele era assim mesmo. Sempre foi mulherengo e Astrid tinha o maior ciúme. _Cuidado com ele! É melhor ignorá-lo! Mas o fato é que Irene estava gostando daquilo. Pela primeira vez na vida sentiu que alguém se interessava por ela e não estava importando quem ele era afinal.
Durante a festa animada e até querendo parecer natural aos olhos de todos que conheciam a sua vida até ali, dançou também com a turma, como todo mundo fazia. Às vezes um ou outro colega de Simone acompanhava-a como par e ela nunca se sentiu tão feliz. De longe notava os olhos de Moacyr e os de Astrid seguindo os seus passos. Irene viu que teria que aprender como se dança, como se relaciona com os colegas, como conversar, como rir, como beber, como se envolver no ritmo de uma música, como se insinuar, como se fazer notar, como se vestir, como se pintar, como se pentear, o que calçar, como se sentar, como falar, como olhar, como se perambular pelos caminhos da sedução, como contornar situações, como se entregar a uma situação, como lidar com todo tipo de sentimento quando nos defrontamos, finalmente, com o mundo envolvente dos relacionamentos homem e mulher, difícil, a amizade; mas difícil mesmo é o amor com tudo que ele nos trás de belo e amargo também.
A festa estava esplêndida, a música, o alarido, os corpos se roçando, todos meio tocados pela bebida e aquecidos pela adrenalina à flor da pele. E os risos, a vontade que a juventude tem de curtir exageradamente tudo como se o mundo fosse acabar amanhã.
Moacyr a todo o momento tentava aproximar-se dançando de Irene, e Astrid o puxava e o beijava na boca e o abraçava. Irene o olhava às vezes sem querer, de frente, esquecendo que ele estava acompanhado e, às vezes, disfarçadamente, sentia que alguma coisa não estava bem, sentia que estava flutuando, como se não fosse mais dona de si mesma.
Quando eram três horas um colega que acompanhara Simone durante toda a noite e que parecia por ela estar interessado disse que as levaria em casa.
Então as duas abandonaram o salão depois de despedir de seu grupo e entraram no carro para ir embora com Adalberto. Simone disse que ligaria à tarde.
Irene chegou a casa. Seu pai e sua mãe estavam na sala esperando para que ela contasse tudo. Tim-tim - por tim-tim. E assim ela fez bem superficialmente, mal controlando o turbilhão de seu coração totalmente apaixonado por Moacyr.
Nesse mesmo domingo à tarde, Simone ligou. Perguntou como estava. Irene disse que estava bem, só muito cansada e queria dormir. Não falou mais nada. Segunda - feira indo para a escola, (o pai que a levava) ela assim que desceu percebeu alguém parado encostado em um muro a poucos metros da entrada. Os estudantes entravam e alguém a segurou pelo braço e ela se assustou. Era Moacyr. Irene tremia, tão perto estavam um do outro. Aquele toque de mãos em seu braço, aqueles olhos que a olhavam tão penetrantes, aquela boca de dentes brancos a deixou petrificada. Disse: _ Quero falar com você! Irene olhou em volta, não havia mais ninguém. Não disse nada e o seguiu até seu carro estacionado no outro lado da rua. Estava como que magnetizada e não falava nada, boba e enfeitiçada.
Moacyr a levou para fora da cidade, um lugar deserto, numa praia. Ela não dizia nada, nem ele. Caminhou com ela durante algum tempo de mãos dadas, depois a puxou para si, brutalmente, mas, olhando-a nos olhos a beijou suavemente, e ela se entregou e ele a abraçou e a beijou na testa, nas faces, nos cabelos, nos lábios e disse que estava completamente apaixonado, se ela queria ser sua namorada. Irene embora apaixonada também, não conseguia sair de sua timidez, dizia sim e sorria para ele inocentemente e beijaram-se na boca e depois ela conseguiu envergonhada falar algumas palavras, mas estava totalmente trêmula e a mercê dele.
Ele, depois de ficar toda a manhã na praia passeando e conversando com ela trocando beijos e carícias a levou de volta ao carro e disse que iria até sua casa à noite. Conhecia sua história e não iria decepcioná- la. Deixou-a na porta do colégio onde seu pai a levou para casa.
Moacyr teve certeza que encontrara em Irene quem ele realmente procurava para ser seu amor. Estava na hora de colocar um “ponto” final naquela sua vida de aventuras. Por isso pela primeira vez havia respeitado uma mulher.
Irene não conseguiria mais viver sem ele. Para ela só ele “bastaria”. Encheu completamente sua vida, até agora tão vazia.
Escrito por Lavínia Ruby em 16/08/10. mariegracev

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