Procura - Por L.R.
Enquanto a lua iluminava a natureza com sua claridade tênue, à cada quilômetro que ele avançava, a paisagem mudava como num filme.
As sombras das árvores, as montanhas em tons negros e verdes bem escuros; as planícies iluminadas e cheias de luar prateando o verde - claro, a estrada de terra pulverizada levantando-se no ar e às vezes baixa, com o mato e galhos de árvores batendo de encontro às laterais do carro, pontezinhas pequenas e frágeis interrompia a corrida, detendo-lhe a marcha.
Precisava chegar rápido ao seu destino, àquela vila que tanto amava onde era o reduto de todas as suas lembranças da meninice. Sabia que lá estava guardado todo o seu passado, que era como um cofre fechado, contendo coisas preciosas, que ele até então não conseguira abrir.
Sua chave há muito estivera desaparecida. Não era capaz de supor que ela estivera tão perto de si, e em toda sua vida havia confiado plenamente, que era uma pessoa adotada, que nunca soube quem era. De onde ele teria vindo?
Agora depois de sua morte havia, finalmente, tido em mãos o mistério de sua vida. Fora criado ali, quando era bem pequeno, naquela cidadezinha de sua infância e dali fora levado sem saber que sua família verdadeira eram aqueles pequeninos à sua volta, seus dois irmãos. Agora voltava para procurá-los depois de vinte três anos de separação. Será que os encontrariam, ou eles também seguiram caminhos diferentes.
A jornada estava no fim. Do alto do morro avistou a cidadezinha. Lá embaixo a torre da igreja sobressaindo, seguiu morro abaixo bem a pique passando pelas ruas estreitas até à porta da igreja. Ainda estava aberta e as mulheres devotas saíam vagarosamente depois do terço.
Parou o carro, desceu apressadamente e entrou na igreja, indo ter com o padre que naquele momento dobrava seus paramentos na sacristia. Então conversou com ele uns vinte minutos, e depois saiu correndo da igreja pela rua afora até o Pronto Socorro, onde entrou aos atropelos perguntando por um nome. Indicaram-lhe o número do quarto e ele se aproximou da cama da enferma.
Quando ela o viu, reconheceu nele um dos filhos levados, e sorriu e apertou-lhe a mão.
_Sim, sou sua mãe!
_Meus irmãos? Onde estão?
–Não poderá vê-los mais. A distância é muito grande, o tempo separou-os mesmo. Mas tente achá-los. Não perca a esperança. Eles estão com seu pai.
_Como? Tenho pai?
_Sim! Sua avó o levou quando pequeno para entregá-lo a ele, mas não pode encontrá-lo mais. Eu não poderia ficar com ninguém e não queria que você soubesse. Fizemos coisas erradas, fui presa, ele fugiu. Perdemos contato. Estou no fim. Arrependo-me por vocês todos. Perdoe-me! Nunca esqueci vocês. Não podiam voltar. Como ficariam? Seu pai tinha o dinheiro, foi embora. Não pode dar mais notícias. É melhor deixar como está. Perdoe-me meu filho. Adeus!
Depois de um tempo saiu, caminhou lentamente para o carro. O que fazer? Chorar? Desesperançado, sem ninguém. Achara e perdera. Soube de tudo ou quase tudo. Iria à busca da família? Sim. Deixaria sua mãe descansando em paz, mas ele não irá descansar nunca.
Criado por Lavínia Ruby em 28/03/10. mariegracev

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