28 de setembro de 2021

Por quê não?

 

Por quê não? - Por L.R.



A casa de fazenda se destacava na paisagem. Grande, com muitas janelas pintadas de azul - escuro e paredes brancas.

No alpendre cercado de tábuas trabalhadas, movimentavam-se algumas pessoas: um homem de seus quarenta e cinco anos, sua senhora, duas jovens, duas crianças: um menino e uma menina. Todos muito bem vestidos.

Preparavam-se para sair em uma charrete naquela tarde ensolarada de verão.

O senhor de chapéu, as mulheres trazendo consigo as sombrinhas e as crianças também com chapeuzinho sobre a cabeça para se resguardarem do sol.

Abriram a porteira da fazenda e a charrete seguiu seu caminho. As crianças alegres, junto com uma das moças no banco de trás, tagarelavam o tempo todo. No banco da frente o condutor, sua senhora e a outra jovem muito pensativa e triste.

Enquanto seguiam, observavam a paisagem: lindos e bem cuidados cafezais à perder de vista. A estrada poeirenta e vermelha seguia reta, ou ,às vezes, fazia uma curva ou subia em algum trecho, depois descia, e os viajantes então iam mais rápidos ou mais devagar.

Depois de quarenta minutos avistaram a ponte sobre o rio, cercada de ambos os lados, e ele correndo embaixo perdia-se atrás do mato onde adentrava. Ficaram por algum tempo observando aquele movimento interminável, depois seguiram seu caminho até a fazenda que agora aparecia detrás do morro.

Outra casa de fazenda, de parentes, uma irmã que ali morava. Na frente o pátio cimentado e contornado por belo jardim. Mais além, do lado esquerdo, o pomar, o curral, o galinheiro, o chiqueiro e o enorme terreiro de café. Estendendo-se por uma grande extensão do terreno viam-se os milharais e logo abaixo as casinhas dos colonos. Em destaque, ao lado direito da casa, uma igrejinha ornada com muitas flores e ramos de árvores formando arcos até a sua entrada onde gente saindo e entrando se espalhavam pelo pátio em frente. Atados à cerca muitos cavalos e carroças.

Ouvia-se o som de música na igreja.

Depois os cumprimentos das pessoas saudando os recém-chegados.

Ouviu-se alguém dizendo: _

_ O noivo acaba de chegar! Então voltaram-se para olhar um rapaz acompanhado de um senhor e uma senhora. Todos muito bem vestidos.

O noivo era um jovem de seus vinte seis anos, muito bonito, moreno, olhos negros, tez bronzeada, forte, dentes certos e brancos que sorria francamente para os amigos e convidados que entraram na igreja que já estava repleta. O casal recém-chegado também entrou com os filhos.

Uma das jovens estava com os olhos cheios d’água ao ver o rapaz. A outra olhava para ela e segurava sua mão oferecendo-lhe apoio moral. Elas ficaram em um canto quase atrás de um vaso de flores, e as crianças procuraram ficar juntas aos priminhos que riam e chamavam por elas. Murmúrio e vozes dentro da igreja.

Os padrinhos já se posicionavam. O pastor já no altar. O noivo ao som da Ave Maria tocada no órgão entrou na igreja acompanhado pela mãe. Esperaram no altar. Todos atentos olhando o pastor, a igreja ornamentada, os belos vestidos.

O noivo ansioso olhando sem cessar a porta de entrada. De repente, seu olhar vagando na igreja avistou Olívia. Seu coração quase saiu de dentro do peito. Mas foi só por um momento. O toque da marcha nupcial anunciava a entrada da noiva com o pai, o homem mais prepotente da região.

A noiva estava encantadora no seu vestido de seda bordada e semi escondida sob o véu enorme arrastando nos corredores da igrejinha sobre o tapete verde recoberto pelas pétalas das flores que perfumavam o ambiente. Eva estava divina. Ela era divina, linda, uma deusa. Com a pele branca, fina e macia, os olhos verdes e a boca de flor aberta nos lábios brilhantes de batom rosa, sorria a todos, convencida que tinha ganhado o jogo. Trazia dentro de si, o troféu de vencedora. Não hesitou em preparar uma armadilha e o conquistar. Quem resistiria a tanta beleza? Marlon agora era seu para sempre. Não a desonrou? Bem, seu pai nunca deixaria que sua filha predileta fosse rejeitada agora. Sabia que seu plano dera certo. Agora no altar ali estavam eles jurando fidelidade eterna um ao outro, amando-se e repeitando-se, na saúde e na doença, até que a morte os separasse.

Os cumprimentos na saída da igreja, a música contínua chamando todos para a festa, o baile armado sobre um madeiramento improvisado no terreno de café, a mesa enorme cheia de quitutes, doces e salgados, o bolo, as fotos, os fogos de artifícios durante a tarde e também à noite. A valsa dos noivos. Marlon e Eva, Eva e Marlon, eram só olhares. Ele sorrindo, disfarçava dentro do peito o amor que sentia por Olívia, que o sufocava de tal maneira, mas procurava não vê-la. Sabia o quanto ela estava sofrendo. Sua prima Eva o roubara dela. Ele, tolo, havia jogado sua vida fora casando com quem não amava, mas ela teria um filho dele, o que fazer? Teria que esquecê-la, não havia outra saída.

Olívia com a irmã, esperando os pais para levá-las embora, conversava. Alba procurava consolá-la. Olívia dizia como conviver com ele agora tão perto sabendo que haviam se amado?

A festa terminada, eles iriam embora enquanto os noivos também se preparavam para se despedir e a noiva ia jogar o buquê. Olívia não queria participar. Saía dali quando o buquê caiu a seus pés. Olhou-o mas não quis pegar, porém, alguém pegou para ela e lhe ofereceu. Era Paul, o irmão de Eva, sempre, toda vida apaixonado por Olívia que junto com sua irmã arquitetara o plano. Olívia pensou tristemente: Por que não? E aceitou o buquê.



Criado por Lavínia Ruby em 30/06/10. mariegracev


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