Viagens - Por L. R.
O ônibus percorria a rodovia rapidamente. Já estava completando três dias de viagem. Cansativos. Rodovia nova. Asfalto novinho. Ótima sinalização. Até pedágio.
Estavam quase chegando ao seu destino. Aquela cidade onde Jeremias escolheu para morar com sua família.
A casinha na periferia. Havia comprado o terreno e os três cômodos estavam prontos. Faltava todo o acabamento, mas não importava. Sim, que ele não estava mais só. Sentira tanta falta da família. Sua mulher Palmira, seus filhos Antônio, Ana e Alan.
Agora estavam ali no ônibus, os cinco novamente juntos. Antônio sentado entre as poltronas sua e da mulher. Ana sentada nos seus joelhos. Alan dormindo no colo de Palmira. Todos quietos, silenciosos, espantados, olhos arregalados da mulher e das crianças, observando tudo com atenção e assombro. Era a primeira vez que viajavam. Viviam lá longe no sertão onde os deixara para ganhar a vida e os tirar da miséria.
Quatro anos haviam passado. Foi muito difícil para ele no primeiro ano, mas era trabalhador e também deu sorte. Foi conseguir emprego em uma CIA. de Estradas de Rodagem. Trabalhou de sol a sol, enlameado, sujo, de uniforme cor de laranja todos os dias, que ,às vezes, vestia até úmido para poder sentir um pouco melhor; queimado o rosto, os braços, quase sem forças se jogava na cama à noite e pensava como estariam os filhos e sua mulher sozinhos naquele mundão. Porém, acreditava sinceramente que Deus não os abandonaria.
Enquanto a rodovia avançava, ele fez amizade com um companheiro e lhe falava de seu desejo de trazer a família, mas não sabia como. Este não era um amigo qualquer, era sincero mesmo e lhe vendeu o terreno que não lhe interessava mais. Jeremias pagou em várias prestações, e foi construindo aos poucos a casa de blocos. Ele mesmo, e agora só lhe restava agradecer a Deus e ao amigo que agora já tinha seguido em frente atrás de uma outra Cia., em outra rodovia no sul de Minas Gerais, sendo reformada, muito longe dali.
Jeremias não quis seguir com ele. Queria ficar por ali, trabalharia na construção civil e foi isso que fez. Agora estaria perto de quem tanto amava e teriam seu lar. Nessa viagem, a casinha esperando os seus futuros moradores estava pronta. Ele a havia deixado arrumadinha, para que Palmira e as crianças ficassem felizes.
Assim, em sua cabeça imaginava agora, ele e ela se acariciando e as lágrimas agora seriam entre risos das crianças.
Palmira ao seu lado, de vez em quando, reclinava a cabeça no seu ombro e ele a beijava na testa.
Trechos da rodovia ele indicava, dizendo:- Trabalhei aqui muitos dias, ajudei a construí-la, e agora estamos nos valendo dela para nos conduzir à felicidade. Palmira sorria e ele sorria de volta, orgulhoso de ter enfrentado e conseguido.
Era forte, robusto, tez morena, musculoso, belo e agora com a experiência de vida, sabia o que queria para si e para os seus.
Palmira magra, pálida, rosto sofrido, sorriso triste, despenteada, mal vestida, mãos estragadas, unhas sujas, ignorante, sabia que não tinha nada; agora teria; ele a amava, não a esquecera, e nem aos filhos. Esperara tanto, não perdeu a esperança, e agora ele estava de volta, e demonstrava amá-la, mais que antes.
Só que ela sabia que pouco tempo lhe restava de vida. Sentia que as forças estavam lhe faltando. A doença era implacável, só sabia que os filhos estariam finalmente seguros. Olhou a rodovia, fechou os olhos e seguiu por um outro caminho.
Criado por Lavínia Ruby em 05/04/10. mariegracev

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