Domesticar - Por L.R.
Amplitude.
Excitação.
Não havia.
Por que precisaria se conter se dentro de si era livre, senhora, liberta de todas as amarras?
Não se detinha frente aos obstáculos.
Uma força poderosa a estimulava a se jogar, a saltar, a lutar contra tudo que lhe barrava o caminho.
E este caminho não era perfeito, plano, sim um montão de buracos, pedras, lama, e areia onde enfiava seus pés, onde tropeçava, onde se sujava e onde escorregava todas as vezes que teria que percorrê-lo.
Mas era sua vida.
De família sem posses, que lutava para a sobrevivência, ela também assim aprendera desde criança.
E em sua vida até quando adulta, procurou o seu espaço, sem olhar para os lados, o objetivo ali estava, e ela seguramente, convicta, tinha-o mais que definido.
Venceria, conquistaria o que para ela era destinado, reservado. Quando se procura com desespero um lugar ao sol, você será, enfim, coroado pela vitória conquistada.
Então à cada passo nessa direção, seus olhos castanhos brilhavam de satisfação, iluminados pela alegria, exultante de ser vitoriosa mais uma vez, e se ufanava e juntava forças para de novo abrir caminho.
Agora seus lábios se abriam em um sorriso de alegria e desdém por aquilo que parecia detê-la, porque a forma com que encarava o medo, não a fazia estremecer, sim lhe dava uma coragem ao enfrentamento, e os obstáculos caíam por terra, e ela seguia seu curso e se fortalecia cada vez mais.
Anos e anos assim, lutando, livre, não se atemorizava por nada, ficava então cada vez mais segura de si e enfrentando as situações, se julgava então vencedora e plena de viver.
Mas o que parecia ser uma vida de vitória, de ser mulher de valor, de repente interveio a paixão.
Essa não foi a primeira, mas foi aquela que a tomou de surpresa, fazendo com que abalasse um pouco sua estrutura, porque deveria tornar a esboçar novos planos.
Mas segura e confiante no amor, aprovou a mudança.
Então se entregou a ele, se casaram.
Os sonhos que tinham em comum eram nítidos, traçaram seu caminho visando um mesmo objetivo.
Odilon era uma pessoa que havia também lutado muito para sobreviver, ele tinha uma experiência muito grande, era vivido em muitas coisas e Margareth não.
Mas viviam felizes por que não tinham nenhuma interferência em suas vidas.
Até que a família dele se fez cada vez mais presente.
Seus objetivos não eram mais dos dois, objetivos comuns de um casal, eram de terceiros, de quartos, de quintos.
Um turbilhão de problemas mil, que desandaram em discussões e deixaram cada vez mais à margem a mulher que Margareth um dia foi e que sonhava e traçava objetivos.
Parecia que a vida tinha parado de seguir para ela, e para ambos se resumia em resolver problemas pequeninos do dia a dia ou de ficar de braços cruzados na frente de uma TV, ou se encararem mudos, com medo de tocar em qualquer assunto.
Tudo seria motivo de discórdia entre eles.
Os filhos, depois de adultos, contribuíam em parte para não haver de todo o divórcio, mas ela sabia que estavam separados, desunidos.
E à cada discussão, principalmente com o tema família, ela se anulava, seus planos que antes tinha, não existiam mais, seus sonhos que antes perseguia foram desfeitos, seus olhos que um dia brilhavam perderam seu brilho, seus lábios que sempre sorriam continuavam a sorrir, mas com um sorriso de quem era forçada a disfarçar o choro.
A fera que lutara com garras e dentes e tinha como casa o mundo, agora era uma gatinha inofensiva, encurralada entre quatro paredes ou alguns quintais, dormitando a cada dia, sendo prisioneira de si mesma, porque haviam-lhe tentado tanto ajustá-la àquela vida, que perdera, enfim, as vontades, perdera o entusiasmo.
Difícil seria novamente voltar a ser fera, estava domesticada.
Criado por Lavínia Ruby em 09/11/10. mariegracev

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