Dentro Daquela Van - Por L.R.
Naquele dia levantou mais cedo ainda do que de costume. Todos os dias ele fazia uma viagem a algum lugar porque era contratado sempre. Sendo um motorista profissional bem procurado e com bastante tempo de trabalho no ramo, conhecido de muita gente que o indicava, nunca havia sofrido qualquer infração de trânsito e ele mesmo se orgulhava disso. Assim pensando, costumava fazer suas viagens com muito prazer, gostava muito de seu serviço e nunca levantava com preguiça, mas quando caía na cama depois de uma jornada estafante, às vezes ao meio de um engarrafamento gigantesco, dependendo da rodovia, roncava como um porco de tão cansado e sua mulher se afastava e ia dormir no quarto vizinho porque ela mesma não conseguia dormir com um barulhão daqueles. Mas esse dia confessava que estava mais descansado porque na véspera fizera uma viagem curta e deitara cedo depois de brincar com os seus dois filhos, passar uma noite prazerosa com Estefânia que estava cada vez mais bonita e sedutora.
Eram quatro e meia quando despediu dela com um beijo caloroso e tomou o café apressadamente e tirando a Van da garagem saiu pela rua, madrugadinha, e virou a esquina distanciando cada vez mais de casa.
Chegou assim na casa de seu primeiro passageiro o Sr. Cláudio, dono de uma loja de roupas esportivas e que sempre, por morar mais perto, o requisitava para qualquer viagem, mesmo não sendo de compras na capital para reabastecer a loja, mas para viagens de turismo, pois, nunca tinha coragem de enfrentar o trânsito, embora dirigisse. Cumprimentou-o e se acomodou no banco da frente com ele, do lado da janela.
Depois foi a vez de Ranulfo, um rapazola de dezesseis anos, seu sobrinho, que também era balconista de confiança do Sr. Cláudio e que o ajudava na escolha dos objetos a serem adquiridos, mas que nem sempre o acompanhava nessas viagens.
Depois, seguindo, foram pegar uma senhora gorda, loira oxigenada, de cabelos curtos, que era costureira e se chamava Leila e comprava tecidos para as suas fiéis clientes.
Em seguida passaram na casa de Cristina. Esta gostava era mesmo é de passear. Era cliente de Leila e aproveitava a companhia da costureira, indo como ajudante, desculpa dela para “bater pernas” e gastar por conta o que o marido custava para ganhar em um barzinho que vivia cheio de pinguços, e ela afanava o dinheiro do caixa e trazia o bobo no bico.
Agora entrara no carro mais uma senhora, dona Conceição, também lojista, de confecção própria e armarinhos. Senhora séria que não gostava de ouvir as risadas de Cristina, nem suas brincadeiras debochadas.
Selma era solteira de meia-idade, entrou com o irmão mais velho, Salomão, solteiro também, herdeiros de uma loja de tecidos, daquelas bem antiquadas e se tivessem coragem já teriam passado a tal loja para frente há muito tempo.
Andaram um pouco até chegar a vez de pegar, (depois de muitas buzinadas) o Sr. Alfredo, que era muito conhecido na cidade por vender artigos eletrônicos e sempre lhe encomendavam coisas. Ele levava muito mais do que lhe era permitido carregar; coisas piratas por exemplo (CD’S e DVD’S).
Depois entrou Liliana e Jairo, um casal que tinha na cidade uma loja de bijuterias e sempre sabiam o que mais gostavam as meninas. Eles ganhavam um bom dinheiro depois de surtirem sua loja com outros acessórios como bolsas, écharps, sombrinhas, e começaram a vender lá também alguns lingeries.
André sentou-se perto de Cristina. Era um vendedor de sapatos como ninguém, um rapagão bem simpático. Era assíduo nas viagens, vindo da capital e estabelecido há pouco tempo. Vendia como água porque sabia também paquerar como ninguém as clientes da loja.
No último banco sentou depois de uma hora de corrida, a Virna, iniciante no comércio de fins de semana, vendendo artesanatos, adquirindo o material na capital para ela própria confeccionar.
Depois pararam no último ponto e a Lena, que vendia de tudo na loja de um e noventa e nove, veio acompanhada de uma garota que nunca havia participado de nenhuma viagem à capital. Nem mesmo conhecia a capital e se chamava Acácia.
Então se esgotaram os lugares. Miguel observou a lista de passageiros, (catorze) e verificou as bagagens, malas, e o que traziam, colocando ajeitadamente sobre os bancos e no porta malas e ajustados os cintos, seguiram viagem.
Saíram da cidade por volta das seis da manhã. Dentro das suas expectativas o horário era adequado, embora tivesse levantado mais cedo esperando sair também mais cedo ainda, mas tudo bem. O tempo estava bom, a manhã fresca, primavera, choveria talvez na volta quando geralmente nessa época o tempo esquenta e a tarde termina com um refrescante temporal, mas passageiro. Sendo época de Natal, ele pensava era que depois que os deixasse às voltas com o tumulto intenso da multidão iria esperá-los em um lugar com sombra e água fresca.
No primeiro momento da viagem tudo era calmo, alguns continuavam o sono interrompido de madrugada e estavam agora com as bocas abertas, cabeças pendentes sobre os ombros do vizinho e outros deles acordados, sorriam do barulho dos roncos, ao mesmo tempo que observavam o sol despontando no céu, belo e majestoso.
Na rodovia ainda era escasso o número de veículos, pois, estavam em uma estrada longe da principal e então assim permaneceram por uns quarenta minutos. Então o sol foi aquecendo dentro da Van e ele ligou o ar condicionado e aos poucos, vendo que estavam despertando, perguntou se queriam assistir algum filme enquanto viajavam, mas a resposta foi não, e começaram as conversas dentro daquela Van:
_ E então, dona Lena! Como vai indo a loja?
_ Estou vendendo bem. Esse ano acho que nessa época faturarei mais ainda. Mas a parte de papelaria está pouco sortida e quero fazer minhas compras agora para o começo do ano, porque depois das festas a procura por material escolar começa cedo. Se eu estiver um bom estoque começarei a vender primeiro. Quero ver se aproveito e se o Sr. Miguel vai mesmo até a 25 de março, nos Armarinhos Fernando, comprarei lá mesmo o que preciso.
_ Quem é a garota que está com você?
_ Não conheço não. Ela sabendo que pego sempre essa Van pediu se poderia esperar no mesmo ponto que eu.
_ Ah, sim! Ele disse- Ela me telefonou reservando um lugar. Seu nome é Acácia, não é? Julguei que estivesse com Lena.
_ Não! Eu queria conhecer a capital e fazer umas comprinhas também. Queria companhia e resolvi vir com pessoas que a conhecesse ao invés de ir sozinha de ônibus.
_ Oh! Sim? Disse Cristina. Mas quem é que vai tomar conta de você? Estamos trabalhando e fazendo compras para as nossas lojas. Você vai ficar agarrada em alguém, por acaso?
_ Não, se é para atrapalhar é só marcar o lugar de encontro e eu estarei lá. Não importunarei ninguém.
Seu Salomão disse:
_ Mas você tem que tomar cuidado. São Paulo é uma cidade perigosa, cuidado com dinheiro, com assalto.
O rapazola ajudante sorriu malicioso e disse:
_ Se alguém notar que você é nova no pedaço quererão tirar casquinha de você.
_ Pare de falar asneiras. Conheço bem a cidade e lhe faço companhia. Disse o vendedor de sapatos.
_ Muito obrigada, mas não é preciso. - disse Acácia.
Então a senhora mais séria do grupo interrompeu bruscamente e rematou:
_ Fique tranquila, minha filha! Pode ficar comigo se quiser.
Acácia sorriu e agradeceu.
Nisso a Van entrou na rodovia principal.
_ Quantos caminhões! Pelo amor de Deus!
_ Como as cidades crescem, Santo Deus! Olhe como aquela vila cresceu...
_ Estão construindo novo Shopping aqui.
_ Você já esteve no Shopping D. Pedro?
_ Não! Ouvi dizer que é enorme.
_ Você sabe que eu fui até Campinas esses dias visitar minha filha? Ela está na faculdade agora.
_ Sabe que estou preocupada? Gostaria de ter trazido mais dinheiro. Terei de comprar a crédito.
_ Esse balanço de fim de ano é que mata.
_ Eu estive doente, fiz aqueles exames e acho que vou ter que arrumar alguém para me ajudar na loja. Pior é também fazer o serviço de casa.
_ Na confecção não estamos dando conta mais de tantos pedidos.
Miguel pensou que teria sido tão bom se tivessem preferido assistir TV. Desse jeito ao final do dia estarão exaustos. A menina não fala mais nada, depois de ser criticada por estar atrapalhando, é bem capaz de nunca mais querer viajar em uma Van. Bem, para falar a verdade se eu fosse passageiro, ao invés de motorista, eu também não iria. Como é desgastante sentar aí atrás, sem ver aqui na frente e não é confortável ficar encostado três horas seguidas em alguém que não tem nada a ver com você. Bem, é minha profissão dirigir e eles não o fazem sozinhos, então que aguentem. Quem sabe até é uma diversão para eles. Que curtam. Melhor pra mim.
A viagem prosseguiu em meio às conversas animadas de todos os que se conheciam, e pouquíssimas vezes alguém interrompia para fazer alguma pergunta ao motorista que agora estava mais atento ainda que antes, pois, enfim, entrara na marginal e o trânsito ficou congestionado e levou bastante tempo até tomarem outra avenida e ruas secundárias, mas finalmente estavam próximos do esperado bairro super movimentado já
naquela hora da manhã, com todas as lojas abertas e vendendo um grande número de artigos de todas as espécies. Alguns flanelinhas indicavam lugares para estacionar e assim Miguel que já era praticamente conhecido encaminhou sua Van para um local em que já ocupara antes, perto de uma pracinha, o que lhe agradou bastante porque era o que procurava, um pouco de relaxamento.
Todos tomaram as suas sacolas, malas e bolsas e debandaram quase que imediatamente, ficando o Sr. Alfredo, Liliane, Jairo, Virna e Lena, que depois de conversarem sobre o horário que Miguel poderia levá-los até a Rua 25 de Março, foram combinando com ele de retornar ali na hora do almoço, meio dia, e depois encontrarem com o grupo todo às cinco da tarde para então voltarem para casa.
Dona Conceição também atrasou um pouco, demorou sair. Conversou com Acácia querendo que ela ficasse em sua companhia, mas a moça disse para não se preocupar que estaria de volta naquele mesmo lugar, às cinco em ponto.
Assim depois de quinze minutou Miguel se viu só, e fechando a Van e acionando o alarme, se afastou até uma lanchonete e sentou-se ali para tomar um refrigerante e comer um sanduíche. Depois foi procurar um grupo de amigos ali debaixo de uma árvore para um bate-papo e descansar um pouco. Acabou pensando na garota e o que estaria fazendo. Com certeza estava fazendo compras também, perambulando nas lojas. “Tomara que não se afaste muito. Bem, tem o endereço onde estamos. Caso se perca tomará um táxi. Não tem jeito de bobinha.”
E de fato Acácia não era nada disso. Podia não conhecer aquela capital, mas era mais que vacinada pela vida. Sabia de tudo um pouco. Era segura e sensata, já havia vivido muito para aprender que era melhor não enfrentar as pessoas de imediato, que era melhor guardar silêncio do que responder às provocações das pessoas, ser tolerante e cautelosa. Quantas vezes essas situações haviam surgido à sua frente, quantas vezes também lhe disseram para não ser a coitadinha, outras, que não a queriam por perto, ou que teria que se virar sozinha. Seu pai que a educara com a mesma disciplina rígida com que era exigido na sua profissão, havia sido morto por bandidos. Ele era um policial de elite que a havia criado como um menino, que era o que sempre gostaria dela ter sido, e assim a ensinara desde cedo a lutar, a atirar, a se defender, e na adolescência conseguiu que ela ingressasse no Colégio Militar e quando falava o seu lado feminino, ele não deixava que se envolvesse com ninguém. E todos se afastavam dela por saber quem ele era. Sua mãe sofria muito com a maneira como ele a tratava, com severidade, e muitas vezes este a havia agredido por recriminá-lo, a havia maltratado, mas com o tempo tornou-se mais carinhoso para com sua filha e a incentivava a entrar na Academia Militar. Queria que ela fosse policial como ele. Sua mãe não queria isso de maneira nenhuma, detestava a profissão do marido e foi se definhando pelos sobressaltos, ansiedade e medo de que alguma coisa acontecesse com eles. Morreu de desgosto. Acácia viveu então com o pai até terminar o Colégio e pretendia começar a dar aulas em ginásios de esportes, quando teve que enfrentá-lo e dizer-lhe que decidira aquilo para sua vida. Ele no princípio se decepcionara com ela. Se entrasse na Academia de Polícia em São Paulo seria tudo que ele gostaria, seguir carreira, mas ficara mais sensível com a morte da esposa e então acatou sua decisão e até gostava de vê-la agora com suas turminhas de crianças aprendendo a nadar, lutar judô, capoeira e gritando e chamando-a professora e observava com orgulho, de longe, aquela mulher tão forte e ao mesmo tempo tão meiga. Bem, no fundo era um desperdício, era não querer ser o que ele queria que ela fosse. Depois veio a ocupação do morro, das favelas tomadas pelos traficantes, e ele desta vez foi pego de surpresa e os marginais não tiveram pena.
Agora Acácia estava sozinha, abalada, retornou à cidade de seus avós no interior de São Paulo e conseguiu um emprego em um centro de recreação municipal e também dava aulas em algumas escolas particulares e sozinha vivia e se sustentava. Não gostava de contar para ninguém que sabia mais que as atividades de recreação e educação física, mantendo em segredo as outras atividades e lutas em geral aprendidas com seu pai e na vida no Colégio e que adorava ainda praticar, saudosa dele. Embora usasse aqueles agasalhos largos e confortáveis, sob eles havia um belo físico. Assim não sentia medo, estava segura que era capaz de enfrentar qualquer situação de perigo.
Andou pelas lojas, comprou algumas coisinhas por ali e depois pegou um táxi e foi até o Ibirapuera, após, até a Av. Paulista onde parou em um Shopping para almoçar. Ficou encantada com a cidade, com a Praça da Sé, com os viadutos, a vida intensa, andou observando o centro e seus arredores.
Resolveu ir até a Rua 25 de Março, atentou para todo e qualquer movimento. No seu caminho, as lojas e todos aqueles ambulantes, todas aquelas pessoas de bem que se distinguia dos que bem conhecia, suspeitos no crime, policiais de olho e na ronda e lembrava-se do pai quando relatava o que ocorria, quando desempenhava seu trabalho. Para isso ela tinha vindo. Pensou como seria se resolvesse fazer o que seu pai queria que fizesse, sentiu um certo desejo de voltar atrás em sua decisão e cursar a Academia. Para isso deveria mudar-se para a capital. Pensou seriamente nisso.
Nos Armarinhos Fernando encontrou com Lena, Liliane, Jairo, Virna, o Sr. Alfredo e Miguel e retornou com eles até o Brás, lá pelas dezesseis e trinta. Eles admiraram de ver como aquela menina da qual não tinham confiança, havia conhecido a cidade em pouco tempo. O grupo retornou até a Van e todos organizaram suas compras da melhor maneira. Deveriam ter as notas fiscais em ordem para passar pela fiscalização, mas não teriam problemas, pois, já estavam acostumados com isso.
Acontece então que teriam que voltar e assim a viagem agora era de um silêncio total, haja vista que todos estavam muito cansados e alguns dormiam antes da saída da cidade. Acácia estava pensando seriamente em mudar para essa capital, como gostara de todo aquele movimento, creio que se acostumaria. Mas aborrecia o fato de ser tão sozinha e largar as crianças tão inocentes para retomar uma carreira que era completamente o oposto daquela agora vivida.
A Van saiu da cidade e pegou a rodovia principal e seguiu até sair dela. O tempo ficou brusco de repente, já se enxergava muita chuva à distância e notava-se que havia chovido muito há pouco tempo. Então a Van encontrou-se quase de súbito com um outro veículo que tentava ultrapassagem e saiu da estrada descendo por uma encosta, e nos solavancos abriu o porta-malas entulhado despejando as coisas compradas pelo caminho, enquanto todos, despertos, de susto, gritavam desesperados, e ela tombou de lado.
Estavam agora um em cima do outro, abafados e sufocados, mas parecia que ninguém havia se machucado seriamente, porém, desajeitados e sem forças para sair dali. Foi quando Acácia com um golpe com o pé forçou a porta conseguindo abri-la e um a um foram se ajudando a sair de dentro daquela Van. Todos já estavam fora. Miguel olhou e não viu a garota. Que acontecera? Ela não estava lá. Então olhando lá em cima, a viram na beira do caminho descido pela Van. Ela já estava com um celular buscando socorro sob a chuva e a noite que descia, acenando para os carros, e já algumas pessoas haviam parado para ajudá-los. Todos se surpreenderam com sua presença de espírito, porque estava calma e ilesa, enquanto todos, inclusive Miguel havia se ferido e estavam tontos, trêmulos, e as mulheres chorosas e inconformadas. Ela auxiliava todas aquelas senhoras e senhores, consolando-os e verificando se estavam bem e acalmando seus companheiros de viagem ajudando-os a se acomodar em lugar mais seguro, amparando-os nos ombros, até Cristina ficou sem jeito quando ela lhe deu a mão para atravessar uma poça de lama. Enfim, chegou a ambulância e foram retirados todos e levados a um hospital próximo dali.
Miguel estava arrasado. Todos, enfim. As mercadorias estavam quase perdidas. Policiais recolheram algumas coisas que foram colocadas dentro dos carros e aquela noite para eles foi um terror. Quanto cansaço, insônia, corpo dolorido, exames, interrogatórios, registro da ocorrência, culpado, não culpado. Miguel ligara para sua mulher, os demais também se preocuparam em avisar os parentes, mas Acácia não tinha ninguém, somente as lembranças e a frieza com que encarara a situação. Eram férias da escola, quem iria se importar ou se incomodar por ela? Não tinha vínculo com ninguém e encarava a vida como um dia a mais a ser vivido que pudesse ser podado a qualquer momento como acontecera com seu pai.
Assim, dois dias depois, quando todos estavam liberados, guinchada a velha Van de dentro do buraco, amassada de fora a fora na lateral, sem condições de ser colocada na estrada, poderiam retornar.
Miguel era o único que dirigia e não poderia conduzir ferido na perna pela batida e pelo impacto e dizia aos demais que deveriam voltar de ônibus. Acácia disse que se tivessem confiança nela os conduziria de volta à cidade, tinha carta de motorista profissional e não tinha medo de fazê-lo, só não tinha um carro ainda. Todos resolveram confiar nela pelo que haviam sabido a seu respeito quando os policiais identificaram-na como filha de um policial e também pela pessoa que demonstrara ser. Miguel alugou então uma vã novinha. Ela sentou-se ao volante e começaram a jornada interrompida tão desagradavelmente.
A mercadoria estava pela metade, quando a embarcaram. Os vidros entreabertos daquela Van deixavam entrar o vento quente da tarde. Alguns estavam resfriados, outros gemendo e se lamentando, mas Miguel dando graças a Deus por ninguém haver morrido no acidente, disse para eles. Todos concordaram. Chegaram até a rezar juntos, agradecendo, um terço para Nossa Senhora, puxado por D. Conceição.
Seu Cláudio e Ranulfo não quiseram sentar na frente como sempre faziam.
Estavam lá, Miguel e André que olhava Acácia, dirigindo, admirado e apaixonado. Quanta diferença das garotas fúteis e imaturas que conhecera até então.
D. Conceição, sentada perto de Cristina, a consolava, pois esta chorava porque o marido sequer retornara seu recado na caixa postal.
Lena, preocupada porque havia perdido os tecidos urgentes de suas clientes e não saberia como reembolsá-las.
Selma e Salomão decididos de uma vez por todas a vender a loja herdada dos pais. Para eles era ponto final mesmo.
Liliana e Jairo, segurando na mão somente uma caixinha de bijuteria que sobrara e que serviria para uso pessoal, o resto todo tombado na lama quando abrira o porta-malas de trás e espalhara as compras, havia enfeitado o terreno encharcado.
Alfredo seria processado pelos produtos piratas encontrados em uma sacola sob o banco em que sentava.
Virna, sempre com ideias artesanais esquecera já o acidente e pensava em fazer agora objetos, mas com materiais reciclados, recolhidos em sua própria casa.
Lena, da loja de um e noventa e nove, pensava que talvez ainda desse tempo de voltar na capital, na próxima viagem, já que a procura por material escolar começava em janeiro mesmo.
Miguel preocupava só em sarar e para isso iria se encostar como a sua Van por um mês e tirar férias com a família ao invés de levar outros de férias.
E Acácia? Agora com mais dúvida ainda. Voltaria à cidade grande, à Academia?
De vez em quando seus olhos encontravam os de André e ela não conseguia, pelo menos naqueles momentos decidir qualquer coisa quanto ao seu futuro... Dentro Daquela Van.
Criado por Lavínia Ruby em 05/12/10. mariegracev



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