Ascensão - Por L.R.
As condições de vida ali eram inteiramente impossíveis, mas as pessoas como que habituadas àquela miséria, pareciam tão indiferentes que se podia dizer que estivessem satisfeitas em estar ali, em meio às ruas sujas, esgoto a céu aberto, becos esburacados onde a enxurrada levava de vez em quando um barraco, ou a enchente encobria as casas mais abaixo, construídas primeiro com blocos, e agora já algumas com acabamentos ordinários.
Naquela vila que se iniciava ao pé do morro, há bem uns dezoito anos atrás, cujo terreno o proprietário havia depois de muito brigar, e desocupações, e ocupados novamente, desistiu enfim, e os moradores aos poucos estavam negociando a preços baixos e com prestações a perder de vista, mas isso era previsível, porque não havia mais nada que fazer com aquele morro que foi vendido então à prefeitura.
Alguns moradores pediam agora melhoramentos, mas nem todos tinham condições para brigar por isso, muito eram bem ignorantes, outros haviam ocupado sem negociar e estavam ali - que diremos?- de passagem - e em alguns barracos era uma troca sem fim de moradores.
Várias famílias vinham, e não achando emprego, desocupavam o barraco e iam embora; em outras, acontecia deixar para trás uma mulher com três, cinco, às vezes, sete crianças abandonadas (ao Deus dará).
E a uma dessas famílias é que pertencia Luzia, filha mais nova de Jacira.
Os três filhos, homens de seus dezenove, vinte e um, vinte e dois anos, já saíam para trabalhar. Jaime, o mais velho, era garçom e já se preparava para sair de casa, estava noivo de uma professorinha.
Luís, o do meio, trabalhava de aprendiz de funilaria e era muito estudioso.
Queria estudar mecânica de automóveis e lutava por uma vaga num Curso Técnico. Antônio, o mais novo, trabalhava em uma lanchonete e estudava à noite, o Segundo Grau.
Jacira tinha muito orgulho dos filhos e também trabalhava como diarista.
Então seja como for, a vida para ela depois de muita luta quando pequenos no nordeste, agora os vendo assim, só sorria
O marido havia seis anos que a deixara, enrabichado por uma jovem sirigaita que vivia rondando a casa, interessada tanto no coroa como nos filhos dele.
Acabou ganhando a moça o coroa, que estava na “idade do lobo”, e os dois foram embora dali, depois do pai da moça a expulsar de casa com boas bordoadas.
Jacira não queria mais saber de escândalos, e por isso suplicava aos filhos que escolhessem bem com quem relacionar, e tendo como mal exemplo o pai, parece que os filhos não seguiriam seu caminho.
No entanto, Luzia... E ela agora aos dezessete anos, era uma moça rebelde, agressiva, segura de si, voluntariosa, determinada, sonhadora, mas de sonhos grandes e difíceis de realizar.
Em primeiro lugar ali não queria ficar, (e com toda razão, pois o lugar era detestável), segundo: quando se apresentou uma oportunidade, não pensou duas vezes, sua mãe e seus irmãos a ajudaram no seu Curso de Enfermagem.
Quando fazia estágio em uma clínica particular conheceu Dr. Maurício, homem cinquentão, atraente, casado, pai de três filhos: Augusto, engenheiro, Marcos, arquiteto e Ramiro, advogado.
Sua mulher, Sra. Carmem, grã-fina muito esnobe, de nariz empinado a olhava com ciúme e desdém.
Luzia, que fazia charme para o Dr. e seus quatro filhos, acabou escolhendo ficar com ele, porque o coroa estava na “idade do lobo” e conquistou seu coração que já sentia uma queda enorme por ele, pois, lembrava seu pai, que tanta falta fazia, e que lhe magoara muito, quando de ciúme, o observava com a jovem quase de sua idade.
Luzia deixou sua família pasma quando ele presenteou sua mãe com um apartamento de três dormitórios em um bairro “chique” e eles desocuparam mais uma vez um barraco da vila.
Criado por Lavínia Ruby em 14/04/10. mariegracev

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