Arrependimento por isto ou aquilo - Por L.R.
Na rua havia bastante movimento.
Carros e caminhões estacionados de ambos os lados.
Também várias motos estacionadas.
Um caminhão atravessou com tal velocidade! Depois uma circular.
Uma camioneta cheia de sacos estava parada e sendo descarregada por um homem simples, de calça jeans, camisa polo verde, botinas marrons, óculos e cabelos grisalhos. A cada momento o tal homem passava as mãos na testa suada depois de voltar de dentro de uma portinha, em uma casa com duas janelas, venezianas desbotadas, paredes de rebocos soltos e uma garagem pintada de vermelho maltratada pelo tempo.
Na tal camioneta havia enxada e sacos de cimento. Depois, ele cansado pegou seu carrinho de mão e levou os tais sacos no carrinho.
Havia um depósito no fundo da tal casa. Era de uma loja que dava frente a uma outra rua, movimentada e muito comercial. Loja de Materiais de Construção.
O tal homem era empregado da tal loja, na tal cidade. E tal era o seu cansaço e seu mal-estar que pensou: “De hoje não passa! Não continuarei mais nessa “droga” de loja.” E assim que terminou o serviço de descarregar a tal camioneta, se dirigiu para o interior da tal loja e foi falar com o tal patrão, porque o tal emprego não lhe satisfazia mais há muito tempo. Na verdade estava “cheio”, e o pedido de demissão havia virado tal fixação!
Entrou na loja. Estava quase deserta. Pouquíssimos funcionários.
Encontrou na ante sala do escritório. A porta fechada e um banco de cada lado da parede. E como eu disse, tal era o seu cansaço que sentou e decidiu esperar.
E daí, de repente chega um sujeito sério, de terno, com uma pasta e senta no tal banco em frente. Ele fita o homem e diz para si mesmo: “Cheguei primeiro! Esse talzinho não passará na minha frente.” Então a porta se abre e o talzinho do homem se levanta e ele mal consegue se erguer do lugar, enquanto o tal homem entra na tal sala fechando a porta.
Ele fica chateado, mas resolve esperar, afinal descansará mais um pouco. Aí aparece outro sujeito com uns papéis que senta novamente no banco em frente. Ele então se escorrega até na ponta do tal banco e fica de sobreaviso, mas a porta se abre e o tal homem dos papéis novamente passa na sua frente depois de lhe dizer: _ Hora marcada! Ele então está com tal raiva que levanta e chuta o tal banco e torna novamente a sentar.
Depois entra uma moça bonita e ele pensa: “Não posso passar na frente dela, é uma senhorita.” Quando a porta se abre ele se adianta com uma mesura e lhe indica o caminho. Ela entra.
Depois vem uma velhinha e um velhinho. Ele pensa assim: “Serão os pais do patrão? Deixo entrar ou não?” Depois resolve não criar caso: “Bem, primeiro os idosos!” Era tal sua impaciência e tal sua irritação que pensa que não irá mais dar o tal lugar para ninguém. Mas, fica aguardando um bom tempo.
Quando a tal porta se abre e o tal patrão sai nervoso, apressado com uma pasta na mão, o empregado diz gaguejando:
_ Preciso falar com o senhor!
_ Amanhã! Tenho que sair, seu Otacílio! Amanhã!
Então ele fica pensando: “Mas será que amanhã estarei com a mesma disposição para pedir a tal demissão? Já me aconteceu isso tantas vezes. Estou cheio desse tal emprego.”
E sentou desanimado no banco.
De repente, as pessoas começaram a sair uma a uma, o homem da pasta, passado algum tempo a tal moça, depois o tal casal e depois algumas outras pessoas. Ele observava as pessoas e se perguntava como é que o patrão saiu antes e elas depois?
Começou a achar tal estranheza naquilo! Quando viu que não havia mais ninguém saindo, resolveu dar uma espiada e abriu a porta da sala do patrão. Estavam os membros da gerência da tal loja e alguns funcionários conversando, parecia uma reunião e então ele resolveu perguntar para as tais pessoas o que estava acontecendo. Elas olharam para ele e disseram;
_Sr. Otacílio, você é sempre o último a saber mesmo! Não tomou conhecimento ainda que nosso patrão está cheio de dívidas e que a loja está falida? Se recebermos o que temos direito vai ser tal milagre! A partir de amanhã vão ser lacradas as portas.
Sr. Otacílio ficou de tal modo nervoso, compreendeu porque estava trabalhando quase sozinho. Como é que vou fazer agora para arranjar um emprego com a minha idade? Ficou sentado cabisbaixo e com remorso por ter desejado tanto ter pedido a tal demissão e deu valor à tal loja e ao tal emprego que tanto maldizia.
Ou melhor, por que havia adiado tanto fazê-lo? Tal adiamento em sua decisão poderia resultar em não receber a tal indenização por tantos anos trabalhados ali.
Criado por Lavínia Ruby em 25/05/10. mariegracev

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