Ruínas - Por L.R.
A solidão invadira a parede de tijolos grandes, antigos, cobertas de musgos, metade e partes desmoronadas. Perdidas entre os vãos passeiam as formigas que ali habitam sem nenhuma cerimônia no seu eterno vai e vem.
No passado remoto era uma mansão concebida pelo seu construtor como um exemplo em arquitetura, agora só restam vestígios do que foi e um nada de lembranças de pessoas que ali habitaram.
Se foram tristes ou felizes um dia, quem quer saber de suas vidas?
O abandono dissolve toda possibilidade que estas ruínas tenham sido restos de vidas felizes.
Que tipo de ameaça deverá ter pousado sobre os ocupantes desta casa como se alguma força invisível os tivesse expulsado?
Essa é a impressão de toda casa em ruínas. O último que a herdou não a quis; a pergunta é sempre por quê? Que explicação teria a não ser que tenha havido decepções, mágoas, anseios por outra vida, desfazer a continuidade de uma geração, quebrar, rasgar, riscar o que estava escrito, apagar, pausar, se negar ao que era destinado a ser. Não há como apagar o passado, mas renunciar ao sempre igual, renunciar ao mesmo caminho, abandoná-lo, seguir sempre em frente, talvez seja a melhor opção, construir outra casa, outro lar, outra história, livrar dos desapegos, sair vitorioso por não se ligar à tradição como uma obrigação, como um hipnotismo, como algema.
"Sim, toda recusa em reconstruir as ruínas de minha casa é negada pela minha expressão de indiferença pelas paredes desmoronando. Não empilharei esses tijolos, não limparei o pó, a poeira, não tirarei as folhas, não espantarei as formigas, não me impressiono com as memórias já vividas ali, não tenho motivo para chorar de saudades dos risos alegres, dos jantares festivos, das rezas no oratório, dos doces, das frutas, dos móveis de veludo estampado, das cortinas de renda, dos quadros na parede, das cadeiras de vime, das porcelanas nos armários e da mesa onde se reuniam os familiares. Tudo acabou, só restou eu e a minha solidão, então fiz o que devia fazer; fechei as janelas e deixei que a casa ficasse assim. Era só minha e decidi que o tempo cuidasse de transformá-la no que hoje eu vejo”.
Escrito por Lavínia Ruby em 30/03/2017. mariegracev

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