19 de setembro de 2021

O Livro

 

O Livro - Segunda Parte - Por L.R.





Muitos anos já haviam passado.

Por que não voltar a viver um novo amor?

Ela deveria voltar a pensar nela, não nos outros.

Queria recomeçar enquanto era tempo, estava viva. Tudo era colorido agora.

O mar refletia o sol, era calma a sua alma.

Retornaria a casa.

Veria sua gente.

Pensou que estava bem, descontraída.

Queria estar a par do que acontecera na sua ausência. O amanhã também lhe importava, mas o presente era o que interessava naquele momento.

Perguntou por ele. Morava ali. Estava sozinho?

Estava dando muita demonstração que estava interessada, mas não queria perder tempo.

O tempo corre velozmente, as coisas deterioram, o corpo abate e o coração fecha.

Então, agitada, deixou de vagar na escuridão da noite de seus sonhos para vislumbrar uma luz, uma esperança de recuperar o tempo que perdera.

Com relação a isso ela não esperou.

Caminhou apressadamente, quase correndo, para alcançar o que tinha deixado para trás há tantos anos.

Sua alma era uma ave voando na sua frente, cortando os ares numa velocidade absurda para vencer o seu corpo que não conseguia alcançá-la, e assim cansada, temerosa, diminuiu seus passos.

Quase parou para acalmá-la. Procurou chegar ao seu objetivo e enfrentar aquela situação retirando dela o máximo proveito, gozando os segundos docemente para que ficassem bem gravados em sua memória, fazendo com isso, recordação agradável para toda vida, já que, o que lhe restava do passado - lembranças amargas de coisas que a haviam marcado - pouca valia teriam agora.

Ser uma pessoa digna, ser uma pessoa otimista, ser uma pessoa audaciosa, ser uma pessoa amorosa, ser uma pessoa ponderada, tudo o mais era possível, porque não era mais desonesta, nem pessimista, nem covarde, nem indiferente, nem inconsequente.

Por isso estava ali, naquele jardim, entre as alamedas que a levavam até a casa, e agora a porta encostada era devagar aberta, e subindo as escadas encontrou seu pai na biblioteca lendo um livro, que era o seu predileto, onde continha uma personagem parecida com ela na juventude.

Ela conhecia aquela história porque o havia lido quando o ganhara de presente.

Foi baseada naquela história a sua fuga.

A sua volta também, mudada.

A segunda parte começaria agora tal qual o livro.

A volta ao lar.

Lembrou como tinha dito ao pai que iria fazer exatamente tal como ele havia escrito.

Viver o que ele havia escrito para ser vivido, e sofrer o que ele escreveu para se sofrido.

Não havia felicidade na primeira parte.

Agora, sentada ao lado do escritor, o personagem real, debruçado sobre o livro, tomava o conhecimento do que iria viver agora, amanhã, depois de amanhã, na semana que vem, no mês, no ano, até o... The end.


Criado por Lavínia Ruby em 21/04/10. mariegracev

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