21 de setembro de 2021

Ao seu lado


Ao seu Lado - Por L.R.



Ela deveria submeter-se? Ela deveria omitir? Ela deveria ignorar? Ela não deveria ter a ousadia de falar que não aceitava? Já sentia rancor, já sentia inconformada, já sentia revolta. Não era possível se manifestar abertamente sobre aquilo, não era possível segurar, não era possível acautelar-se, não era possível não ficar ressentida. Era de sua índole ter convicção quando estava certa e não abrir mão, era de sua índole meditar sobre o que faria, era de sua índole se obrigar a agir se aquilo não era de sua aceitação. Não era de seu direito ficar em paz consigo mesma? Era sim de seu direito determinar suas ações. Era sim de seu direito o arrebatamento de uma solução porque tinha ainda a energia para levar adiante um propósito. Por que tinha princípios se não valesse deles e não os usasse? Por que a certeza se era para fechar só para si e não se manifestar? Um dia ela reclama, outro silencia, um dia insinua outro dia se apazigua, um dia se manifesta outro dia se conforma. Era dúvida, era anulação, era esquecimento. Mas pensara bem: depois disso haveria mais transtornos, menos transtornos ou excesso de transtorno? Sua preferência era que parasse por ali, seu alívio seria que fosse a primeira e a última vez, talvez tivesse sido apenas devido a uma circunstância qualquer e tivesse culminando naquele estado de coisas. Talvez não houvesse intenção, nem querer, mas tudo fora do controle, o que fazer? Procurar solução, ou se omitir, se acusar a si, acusar o outro, envergonhar a si mesmo, envergonhar o outro, reclamar, tolerar, agir para se sentir aliviada, mas para ela custava muito o fato de há

semanas ali ao seu lado, perto de sua casa, do outro lado da rua, três caixas carregadas de entulho de construção e em volta um amontoado de lixo esparramados: garrafas plásticas vazias, plásticos grossos, pedaços de papel, cartão, papelão, objetos sujos e usados, potes descartáveis, chinelos velhos, pedaços de tecido, tudo fazendo um volume sujo e difícil de ignorar, bem pelo menos para ela.

_Temos que recolher esse lixo!

_ Não! O vizinho que colocou, eu não vou pegar.

Várias vezes falara, mas não fazia. Isso demorou mais de quinze dias. Até que em uma manhã acordou e disse:

Cabe a mim esse trabalho. Até o lixeiro ignora. O vizinhos então não estão nem aí. A minha mãe Terra agradecerá e não deixarei mais que isso aconteça aqui. Ela recolheu tudo em sacos plásticos separando cada coisa: as úteis e as inúteis, levou para sua casa e, enfim, foram conduzidos ao depósito destinado.

Ao seu lado ficou o terreno limpo e a sua consciência se tranquilizou.



Escrito por Lavínia Ruby em 01/10/2018. mariegracev










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