20 de setembro de 2021

A Lagoa

 

A Lagoa - Por L.R

 


Séfora estava lá. Faltava chegar quem? Sebastião.

_Ele sempre chega tarde. Que coisa! Por que é sempre assim? Aquele atrasado. Que será que está fazendo? Já passa das cinco. Estou morrendo de calor. Vou tirando a roupa e cair nessa água.

As folhas verdes das copadas árvores envolviam-na com sua sombra. Estava então sozinha e se sentia como que livre para fazer o que bem entendesse. A liberdade era não estar exposta aos olhos de ninguém. Como gostaria que assim fosse a sua vida, porém nunca se lembrou antes de estar tão solitária assim, em um lugar longe de todos, retirado da cidade, com seu namorado.

_Será que ele virá?

Sebastião- Há pouco tempo estava com ele, mas confiava cegamente em sua pessoa. Quando chegava sempre atrasado e dizia que o trânsito estava insuportável, por que não acreditar? A cidade grande só atrapalha a vida e os horários das pessoas. Por isso ele mais razão teria para que sugerisse ficassem sozinhos e marcasse aquele passeio fora de lá, onde pudessem, enfim ficar mais sossegados e namorar a vontade. Seria só naquele final de semana prolongado. Ele ainda não estivera ali, mas ao alugar o chalé se informara sobre as belezas daquele local e contava como seria possível ficar totalmente descansado e relaxado. E o lugar era realmente muito bonito. Chegaram na tarde de quinta-feira santa e passaram já uma noite maravilhosa. Séfora finalmente pôde considera-se satisfeita e certa de ter satisfeito o namorado insistente e ansioso. Ele lhe disse que iria até uma vila não muito longe dali, buscar mantimentos que faltara. Ela ficara dando um jeito no chalé; era bonitinho e até algumas flores colhera. Agora saíra para ver a lagoa onde ele sugeriu que poderiam dar um mergulho mais tarde.

Ela, porém não queria mais esperar. Ele estava demorando demais. Séfora então entrou aos poucos na água. Estava morna e gostosa. Seu corpo se revigorou ao contato com a água. Agora poderia ficar ali e a espera não seria tão tediosa. Assim ficou meia hora, porém não se afastava da margem, não sabia a profundidade e tinha um pouco de medo de avançar além. Esta lagoa era um pouco extensa e cercada de plantas até a margem ao seu redor, mas do outro lado se observava em um ponto, um lugar onde era possível subir, pois era sem vegetação e parecia um caminho. Um trilho que entrava na mata. Ficou curiosa. Seria um caminho para algum ponto interessante? Bem, seria legal seguir a trilha e saber... E se eu nadasse até lá? Estou bem disposta. Vou tentar... Seu olhar fixo no caminho que aguçara a sua curiosidade, suas braçadas ansiosas, sua insistência em continuar, e depois de algum tempo não ultrapassara ainda a metade da lagoa e vendo sucumbir as suas forças... Vou conseguir... Vou conseguir...

_ Consegui!?

A trilha à sua frente...

_Sigo agora por ela ?

Ouviu barulho lá atrás de si, na outra margem. Deve ser Sebastião que voltara. Esperou um pouco. Não, não ouvira carro nenhum, só um som confuso e não entendeu se a chamavam. Estava muito cansada. Sentou observando a trilha e pensando se seguia ou voltava. Nadaria de volta. Que loucura! Agora desse lado de cá. Não esperou muito e nadou de volta. Cada braçada lhe pesava tendo que chegar e já lhe faltando as forças. Sentada à margem da lagoa sentia que não poderia demorar. Resolveu se trocar e voltar ao chalé, pois estava ficando tarde. Regressou até ele, entrou e foi se aconchegar junto a lareira; sentia seu corpo esfriando e não conseguia se aquecer. Olhou no relógio: sete e meia. Como Sebastião estava demorando. Disse alto, falando sozinha:

_Não é possível! Já estou desesperada com esse silêncio. Eu que estava tão contente pela solidão do lugar. E ele que não vêm.

_Será que aconteceu alguma coisa? Não, ele virá ainda. Já se passaram das oito e meia. Escurece. Meu Deus! E eu aqui sozinha! Vou me fechar dentro de casa. De repente deu algum problema no carro. Vou preparar alguma coisa para comer, enquanto ele chega. Um sanduíche de presunto, queijo. Aqui tem. Bem! Na sacola que ele trouxe deve ter mais que isso. Só isso? Dois pães, cerveja e cigarros? Daí que ele teve mesmo de sair para as compras e está demorando. Espere! Em minha bolsa trouxe macarrão, molho e alguns biscoitos. Bem! Deve estar comprando algumas frutas e mais cerveja. Vou preparar o sanduíche... Não consigo comer, por que estou tão nervosa? Estou tremendo... É de frio... Vou pegar uma blusa... Isso! Um cobertor. Dormirei aqui perto da lareira... Não irei para o quarto... Sozinha, não!

_É noite; quanto barulho na mata; não vou nem olhar para fora. Quero é ficar trancada aqui, será que conseguirei dormir? E nada de Sebastião. Como pôde me deixar aqui e não se preocupar em voltar logo. Mas amanhã, se ele vier, desta vez não adiantará pedir desculpas; se continuar " furando" comigo não é possível continuar... Mas eu o amo tanto. Só de pensar que ele pode ir embora quase morro de sofrer. O jeito é dormir. Estou segura aqui dentro, mas não estou gostando nem um pouco de saber que vou passar a noite sozinha.

_Não estou conseguindo pregar o olho; vou reanimar essas chamas que estão se apagando.

_Já são duas horas da manhã. Que barulho esquisito, parece que estão afastando galhos, quebrando. Alguém se aproxima; me chama? Estou sonhando? Só pode ser ele.

_Sebastião! É você? Não responde. Não vou abrir a porta. Não responde. Essa voz que me chama. É sua voz? Mas não responde. Só me chama e não diz mais nada? Só meu nome? Como estou tremendo. Parou de me chamar. Quem pode ser? Conhece-me? Quer me assustar? Será que ele quer me assustar? Quem será? Aqui nesse lugar. Mas não abrirei. Silêncio. Deve ter cansado e ido embora. Calma, Séfora! Você está impressionada e ouvindo coisas.

_Quatro horas! Como gostaria de estar em minha casa ouvindo o barulho da rua, do trânsito infernal, as músicas dos barzinhos, de meu pai chegando e brigando com minha mãe, meu irmão ouvindo o som do Rock; confesso que eu não reclamaria. Nunca estive em um lugar desses e nunca mais quero estar. Quando amanhecer sairei daqui. Até meu celular deixei em casa para não ter que dar satisfações a ninguém. Como sou idiota. Bem julgava que aqui tivesse telefone por perto; não sabia que precisaria tanto de um; terei que andar até essa vila se Sebastião não vier. Mas que explicação ele terá para me dar? E eu falarei dele aos meus pais para quem menti dizendo estar com amigos? Mas, algo aconteceu, não resta dúvida. Ele não seria capaz de fazer uma safadeza dessa comigo.

_Bem, são seis horas e meia. Está claro! Vou sair, fecharei a porta e irei embora andando. Será que conseguirei encontrar o caminho? Não devo me desesperar.

_Era mais ou menos por ali. Contornando a lagoa. Não posso perder mais tempo. Vou rápido. Não pensei que este contorno... Fosse dar em lugar nenhum. Não tem caminho, não tem estrada, só mato fechado em volta do chalé e da lagoa. Meu Deus! Por onde viemos? Espera! Essa trilha que segue pela mata deve ser o fim da trilha que leva à margem que descobri ontem. Há pegadas de alguém. Seguirei por ela.

_Alguém me chama? É Sebastião! Está na lagoa! É ele que deve ter voltado ontem a noite. Por que não abri a porta para ele?

_Sebastião! Sebastião!

_Um corpo enroscado na beira da lagoa. É ele? É ele! O que aconteceu? Está morto! Meu Sebastião! Que aconteceu? Mas quem me chama? O que está havendo? Quem me chama? Esperei tanto por você. Estou ouvindo sua voz. Não pode ser verdade.

_Séfora! Estou aqui!

_Como? Você? Mas estás morto, aqui, afogado nessa lagoa. Estou ficando louca! Que se passa comigo? Você está...

_Sim, nós estamos.

_Não, não!

_À noite ao descobrir você lá no meio, afogada, tentei ir até lá, e você ao tentar seguir a trilha, estavas nadando para a morte.

_Sebastião! Se não tivesses atrasado teria evitado essa tragédia. Não quis esperar por você e quis nadar até lá e descobrir a trilha sozinha.

_AGORA NÃO PRECISARÁS MAIS ESPERAR POR ELE. IRÃO SEGUIR JUNTOS ETERNAMENTE.

_Séfora! Quem está nos dizendo isso?

_Não sei, não sei, creio que são os sons do lugar que parecem estar nos chamando.

_Olha! Aquele homem que nos sorri irônico lá da margem da lagoa.

_APRESENTO - ME. SOU SAMUEL, SEU FALECIDO BISAVÔ, SEBASTIÃO. ANTIGO PROPRIETÁRIO DO CHALÉ; E MINHA SINA É CONTINUAR A HABITAR ESSE LUGAR, POIS, CONHEÇO OS PERIGOS DA LAGOA E DEVERIA SEMPRE "PROFETIZAR" ISSO AOS MEUS INQUILINOS, MAS TENDO DEMORADO VAGANDO POR AÍ, NOVAMENTE CHEGUEI ATRASADO E NÃO PUDE EVITAR MAIS ESSA FATALIDADE. INFELIZMENTE É HEREDITÁRIA ESSA MANIA.

Escrito por Lavínia Ruby em 23/01/2013. mariegracev





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