19 de setembro de 2021

A Consumista

 



A Consumista - Por L.R.




Era uma mulher (como toda mulher) que gostava muito de ir às compras.

Seu nome era Valéria.

Não tinha, porém, estilo.

Como toda mulher que vive de alguma renda, se divertia assim, comprando o que lhe caía bem e achava bonito.

Mesmo que quisesse parecer bem vestida, depois das compras, experimentava as roupas e não achava ocasião para usá-las, porque na verdade, comprava-as mais por comprar do que pela necessidade.

Assim havia umas peças mais finas, que quando surgia um convite para uma festa, um casamento, aquela roupa tinha já cara de velha, e embora a usasse, parecia-lhe que todos estavam mais bem vestidos que ela.

Enchia seu guarda-roupa com blusinhas coloridas, calças compridas, sapatos abertos e fechados, sandálias, mas somente usava o de costume, chinelo havaiano de dedo.

Também não se penteava muito. O seu cabelo castanho era até nos ombros, pesados, armados e com cuidado, até bonitos, porém, não lhe gostava ir ao cabeleireiro e passar um tempo esperando, sendo que poderia estar fazendo compras.

Espere aí: é lógico não tinha dinheiro para tanto, mas era bem divertido entrar nas lojas para olhar, sem comprar nada também, mas sempre levava algumas coisinhas: uma acetona, esmalte, lixa para o calcanhar, lixa para as unhas, creme hidratante ou tintura para os cabelos, (que pintava em casa, porque fora o tempo que não perdia no cabeleireiro, também não queria esta despesa).

Valéria em sua vida, sempre comprou também coisas para a casa como: roupas de cama, mesa e banho e também roupas para os filhos e marido, (sapatos também). Alguns móveis, tapetes, utensílios domésticos, como talheres, pratos, panelas e enfeites, também faziam parte desse rol de objetos; coisas mil, de que toda casa necessita, mas só a dona de casa mesmo é que dá conta.

Marido só achava que ela gasta demais, não sai das lojas, adora um shopping.

Valéria estava zangada com isso, mas sua zanga também tem prazo de validade, como algumas das coisas que ela compra. Quando acaba esse prazo e as coisas vão ficando desgastadas, é claro, é evidente, fatalmente, necessariamente que ela é obrigada a comprar, aliás, com todo o gosto do mundo.

Se você quiser perguntar pessoalmente a ela porque gosta de comprar ela lhe responderá:

- Se eu não fizesse isso, certamente ficaria maluca. É a melhor coisa para espairecer, esfriar a cabeça. Há muito tempo atrás quando os meus problemas eram outros; não tinha família, solteira, jovem, só eu; não o fazia tão assiduamente, mas depois de casada, não posso ficar somente em casa e tomando consciência do que me falta, eu procuro suprir as minhas necessidades; eu sei intimamente, que embora tenha necessidades de coisas reais como o que se vê nas lojas, sinto uma necessidade de algo mais que não me é dado, portanto, as coisas que compro não suprem o que me falta psicologicamente.

Hoje - disse Valéria - quando eu queria conversar com meu marido, como sempre, ele saiu e eu fiquei chateada. Não era nem para discutir relação, era para pedir dinheiro para cobrir a fatura do cartão de crédito. Vê se pode! Virar as costas e ir embora! Mas, sabe? Eu já estou acostumada! Sempre deixo para então pagar no último dia, aí os bancos já estão vazios e ele não quer que eu atrase senão os juros serão exorbitantes. Mas sempre aproveito que zerou o pagamento para comprar para o mês seguinte. Afinal, a maior parte pago de minha minguada aposentadoria de professora.

Ontem, quando seu marido completou o dinheiro, lembra Valéria? Você disse:-

_ Eu vou mudar, e você vai ver, aguarde!

Porque você decidiu que vai dar um tempo, cansou de crítica. Vai controlar os seus gastos. Ele não ficou a vida toda dizendo que você não sai das lojas, compra demais? Pois, você agora decidiu:

Tudo que você tiver que comprar vai ser pela Internet e como você quase não sabe usar o computador, terá que dar um tempo, até aprender, para voltar a gastar, não é?


Criado por Lavínia Ruby em 08/04/10. mariegracev


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