A Caminho para o Trabalho - Por L.R.
Nicolai desceu o morro.
Estava meio escorregadia aquela ladeira mas ele era um rapaz bem ágil; a vida inteira havia feito aquele trajeto que para ele não era nenhuma novidade. Procurava enfim os lugares certos para pisar e assim ia mais rápido que outras pessoas que também faziam aquele mesmo percurso. Venceslau, seu companheiro que também trabalhava lá embaixo, no pé do morro, descia com ele, porém, fazia somente algum tempo que
morava ali, haviam se conhecido na escola de lata que agora depois de demolida dera lugar a uma bela construção de alvenaria com pátio coberto e equipado com computadores, tal qual as favelas do Rio onde são recebidos os turistas estrangeiros que visitam por curiosidade e tiram fotos para mostrar lá fora como eles vivem aqui, dependurados e famosos por aguentarem o tiroteio dos traficantes e dos policiais.
_ Nicolai, você vai ao baile hoje? Vai estar animado.
_ Não sei; se voltar mais cedo. Pelo jeito a chuva hoje vai continuar.
_ Sabe que a Luzia pergunta sempre por você? Mandou-me lhe entregar esse bilhete.
_ Sei que ela namora todo mundo. Há alguns dias há vi agarrada com Peterson.
_ Mas é de você que ela gosta. Peterson está ocupado com outras coisas, você sabe com o quê.
_ Eu não quero confusão, sei bem que tipo ele é. E, além disso, preciso melhorar de vida para poder casar, juntar com ela eu não quero, depois ela pode se achar livre para fazer o que quiser, como agora, que está não sei se comigo ou com ele. Sonho em ser um bom pai de família. Esse negócio de juntar, não dá segurança para ninguém.
_ Ora Nicolai! Você acha que papel garante a felicidade? O que vale é gostar. Bem, lá está ela tomando a circular. Se você for mais rápido, talvez possam ir juntos.
_ Não dará tempo. Terei que esperar a outra.
_ Eu vou ficar com você aqui. Está cedo ainda. O bar só abre às sete e ainda faltam dez minutos. Por que você não arruma um emprego mais perto, Nicolai? Você pode estudar na escola à noite, como a gente, fazer um técnico.
_ Acontece que eu quero juntar dinheiro para viajar. E lá na fábrica estou bem. Gosto do que faço. Minha mãe me deixou com a tia Alzira e foi para a Bahia com o Gonzaga, mas ela me escreveu uma carta e tenho o endereço, e depois que Alzira morreu quero ir morar com ela. Ela não disse, mas garanto que está tendo dificuldades com aquele cachorro, se bem o conheço. E não pode vir. Grande besteira ela fez. Olhe o ônibus! Até mais Venceslau!
Nicolai subiu na circular e sentou encostando a cabeça na janela e enquanto este seguia observava tristonho as casas, os prédios, quase todas construções judiadas que cada vez iam tomando novos tamanhos e não deixando ver a autenticidade de suas cores e de suas arquiteturas corroídas pelo tempo, pelas pichações e conforme avançava em direção ao centro da cidade as avenidas se tornavam mais congestionadas nessa marginal.
Pensava ora na mãe, ora na tia Alzira que tão carinhosa havia sido para ele, ora em Luzia e o quanto era bonita e faceira. Gostava dela, mas sua prioridade era sua mãe. Teria que ver como ela estava, não deixava de pensar nela embora quando o deixara não pensara nele.
O ônibus parou e entre os passageiros entrou uma moça apoiada em duas muletas e sentou dois bancos à sua frente, no lugar destinado aos deficientes. Ele observava aquela moça. A circular continuou seu trajeto pelas ruas da cidade e ele cada vez mais a olhava: seu rosto calmo, seus olhos serenos e seus lábios dóceis que pareciam abrir-se em um sorriso. Era de uma beleza incomum, pele clara, cabelos até aos ombros, ondulados e ruivos, olhos esverdeados, traços delicados, diferente da exuberante beleza morena de Luzia. Pensou como era difícil para uma jovem ter aquele problema, mas ela parecia tranquila, talvez conformada pela sua condição.
Os pingos da chuva começaram a se tornar mais intensos e aos poucos o céu começou a escurecer cortado pelos trovões e relâmpagos. Prenunciava-se uma grande tempestade e ela veio rápida, com uma chuva violenta, pancada forte, torrencial e em pouco tempo começou o sofrimento em consequência da enchente. Carros tentando desviar para outras ruas interceptando outros, virando esquinas, guardas tentando ordenar o trânsito, e isso em meio a uma aglomeração de pessoas nas calçadas e sem poder atravessar por causa da enxurrada que se formava; outras andando assim mesmo, tentando se afastar dos locais de alagamento, com as pernas mergulhadas na água até os joelhos. Enquanto todos se procuravam afastar dali - os poucos carros que ainda impedidos de desviar da enchente do rio marginal eram abandonados pelos motoristas, pois não se podia avançar pelo volume de águas - eles estavam ainda no ônibus, e de repente viram que se continuassem ali esperando seriam tragados pela enchente, pois estavam imobilizados como aqueles carros parados.
Os passageiros de outras linhas já abandonavam os ônibus que estavam impedidos de circular e se afastavam rapidamente. Ali acontecia o mesmo. A moça das muletas olhava apreensiva a chuva decidindo enfim a se levantar, e o motorista e alguns passageiros a ajudaram sair até a calçada. O moço acompanhava a cena com o olhar, depois a perdeu de vista. Deveria ter sido levada por alguém; nessa hora todos procuram colaborar com seu semelhante. Desceu também e em meio à enxurrada até os joelhos se afastou do ônibus procurando um lugar mais seguro, mas indeciso.
Muitas pessoas estavam longe já e as ruas estavam ficando desertas e a chuva ia aumentando. Pensou que deveria ter agido mais rápido e talvez não estivesse naquela situação se a moça não o tivesse distraído. A água subia e ele se viu impedido de continuar.
Observava as casas da rua: eram barracões abandonados, casas velhas, sujas da poluição do ar, da fuligem das fábricas, sobradinhos conjugados, antigos, construções que possivelmente serviam de abrigos para marginais, prostitutas, e habitadas por ratos, aranhas e baratas. Mas era ali mesmo, em um daqueles antros que iria se abrigar por um tempo até a chuva passar, e rente aos muros e paredes encardidas foi se arratando até que em um cubículo mal cheiroso, percebeu que alguém ali estava encostado. Foi chegando devagar, apesar do receio e deparou com aquela garota, assustada, fixando nele o olhar; somente ali estava uma das muletas, os pés sem sapatos mergulhados na água até os tornozelos, encharcadas as roupas e ensopados os cabelos. Procurou a entrada da casa, a porta podre do sobrado e a forçou com os ombros; ela abalada abriu com facilidade batendo contra a parede detrás derrubando uma camada de reboco, e ele então entrou na sala escura afastando com os pés o lixo acumulado, procurando espaço limpo para um refúgio.
Rápido tomou a garota no colo e levou-a para dentro e estendeu-a no chão, depois abriu sua mochila e revirando lá dentro retirou sua blusa e lhe ofereceu. Ela tremia, ele pensou deve ser de medo de mim ou de frio. Mas aos poucos ela se sentiu segura quando recebeu dele a blusa, baixando os olhos com medo de seu olhar e ele disse;
_ Não tenha medo, quando a chuva passar eu a levo para casa.
Assim ficaram sentados um ao lado do outro, e o tempo lá fora igual e o tempo aqui dentro parecia ter parado também e era o que ele queria, não sabia por que mas ficar ali junto dela, sentindo a emoção daquela presença mexia tanto com ele. Sentia que alguma coisa estava se passando entre eles. Parecia um magnetismo por isso não se olhavam, ficavam assim mudos. Pelo menos ele não queria quebrar aquilo, olhá-la de frente nos olhos, era o que faltava. O que será isso? Se nos olharmos, essa atração, não quero nem pensar… Se houvéssemos de imediato travado uma conversa, talvez agora não estaríamos tão constrangidos. Agora é tarde, qualquer movimento de olharmos cara a cara iria acender em mim, aqui nesse lugar longe de toda a vista, um clima, e nos entregaríamos um ao outro? Não, não, tenho que me conter, sou homem, não posso me deixar levar, tenho que respeitá-la apesar dessa minha atração. E também como vou saber se ele está com medo de mim, por se ver à minha mercê, impotente. Talvez tenha medo de estupro, mas e se ela também me quiser? O que será que ela está pensando, querendo ou tremendo de medo? Meu desejo está aumentando, não consigo quase me controlar. Ela nessa roupa molhada, como eu gostaria de despi-la, acariciá-la, mas não farei isso. Controle-se, não fale com ela.
Resolveu se levantar e observar o lugar em que encontravam para se desligar, aquele não era um ambiente, pelo menos não para um ato de amor, mais para um antro de perdição. O que ele queria? Uma menina tão delicada fazendo amor em um lugar daquele? Sentiu que era mesmo um ignorante e precisava aprender que uma mulher o que quer é ser em primeiro lugar valorizada… Não naquela sala onde escondidas no escuro as aranhas trabalhavam e caçavam em suas teias, os ratos e as baratas reviravam os lixos acumulados nos cantos, o que era percebido pelos ruídos que então eram ouvidos em meio ao silêncio dos dois.
Enquanto assim pensava, sua respiração mais profunda se ouvia como para acalmar seus nervos e o desejo que estava à flor da pele.
Notou barulho na rua, saiu lá fora; a chuva cessava e algumas pessoas que haviam também se refugiado em algumas daquelas casas ou eram moradores que ali estavam espiavam pelas janelas e inclusive arriscavam-se a sair para ver os estragos. Algumas equipes de socorro do Corpo de Bombeiros atravessavam com botes o local e interrogavam as pessoas sobre a situação e quem precisava de ajuda. O que se ouvia eram impropérios, pois nenhum político ainda havia se ocupado em dar um jeito na situação, e também pelas coisas jogadas no rio e agora flutuando na água lamacenta dava para ver a falta de consciência da população.
Nicolai se dirigiu até eles e disse que uma moça precisava ser socorrida e então eles entraram e a transportaram até um local mais seguro onde de lá a levariam para o Pronto Socorro juntamente com outras pessoas. Ela porém, disse estar bem e iria para casa. Nicolai que aguardava do lado de fora da ambulância disse que iria tomar um táxi e que a acompanharia, e ela constatou que o tempo todo ele estivera ali aguardando e não queria se livrar logo dela. Percebeu que ela sorriu mais segura, pois estava com alguém confiável e o seguiu com os olhos enquanto ele chamava o táxi, o que demorou mais algum bom tempo, devido à situação que todos enfrentavam.
Depois de acomodada, Nicolai no banco da frente com o motorista e ela deitada atrás, lembrou que havia esquecido a muleta, agora não fazia mal, ela perdera a bolsa com os documentos também.
O táxi os conduziu bem longe, em um bairro distante e elegante parando em frente a uma casa bem bonita e grande. Nicolau pediu ao taxista para esperar que ele retornaria já. Enquanto tocava o interfone ela lhe disse para o dispensar, ele iria mais tarde, gostaria que ficasse para conhecer seu pai. Nicolai acanhado pensando que talvez ela pensasse que ele quisesse alguma coisa em troca, deixou-a sentada em um banco no jardim e imediatamente depois de aberto o portão pelo porteiro, enquanto rapidamente entrava no táxi e ia embora pensando:
_ Eu queria você, só queria você! Será que você me sairá da cabeça? Mas quem sou eu? Olhe onde você mora! Como você é educada, estudada, seus pais devem querer me oferecer um bom dinheiro para eu não aparecer mais, imagine ela com um amigo favelado como eu. Que azar o meu, esqueci completamente a Luzia, minha mãe, ela está me povoando o pensamento.
Enquanto isso o motorista lhe perguntava pela terceira vez onde queria ir. Ele disse:
_ Para o morro, lá no Mangueirão.
_ Que lugar, heim? Podia ter se dado bem hoje, amigo! Ele olhou o taxista e disse:
_ Não é para mim não!
_ Se fosse outro não perdia a ocasião. A garota parece que se interessou por você.
_ Pode ser, mas… Já tenho uma garota... Igual a mim.
Parou perto do bar em que Venceslau trabalhava, pagou o táxi, contou o dinheiro na carteira que quase não deu para a corrida tão longa e pensou:
Ela com certeza terá percebido que eu sou um pobretão.
Seu amigo lhe serviu uma cerveja.
_ Ei, você está molhado. Ouvi dizer que houve enchente de novo na marginal.
_ Pois é, perdi um dia de serviço, já são quase quatro e meia.
Bem, não foi só você. Muitos voltaram, inclusive Luzia que tomou a circular de antes, lembra? Na sua frente. Ela chegou faz tempo e disse ter visto você, mas você não a viu, estava ocupado carregando uma moça no colo. Quem é? Disse que entraram em uma casa? Está furiosa com você e com essa. Disse que é para você esperar para ver só, se a fulana aparecer por aqui.
_ Ah, ela que fique sossegada, foi só alguém precisando de ajuda. Nem sei quem é.
Nicolai estava cansado, queria dormir e apagar a imagem da moça de sua cabeça e foi para casa. Abriu a porta e se sentiu mais solitário do que nunca. Foi tão boa aquela companhia durante tão pouco tempo, nunca sentiu tão intensamente a presença de uma pessoa e um carinho tão especial por ela por ser sua dependente, seu protetor, seu dono.
Preparou algo para comer, pois de repente lhe deu uma fome, lembrou que deveria tomar um banho antes, tirar aquelas roupas imundas, porque poderia pegar uma gripe.
_ Devo esquecer, seguir em frente, amanhã não me lembrarei de mais nada ao retornar ao trabalho, ou quem sabe ainda a reencontro outra vez se subir no mesmo ônibus, os passageiros muitos são os mesmos de sempre, bem poderia dar sorte, por que não?
Depois de banhar-se, comeu, deitou-se, dormiu imediatamente e só acordou no outro dia às seis da manhã com o toque do despertador. Tomou um banho e se vestiu. Foi arrumar a mochila. E a blusa?
_ Caramba! Não me lembrei de jeito nenhum. Está com ela. Bem, vai ficar. Decerto jogará no lixo. Não pode me entregar. Onde iria me encontrar? No mesmo ônibus, quem sabe? Não, com seu problema ela não arriscará mais.
Os dias passaram. Quinta semana. Tudo seguiu normalmente; as idas para o trabalho, os turnos, de manhã e de noite, as horas extras, os encontros com os amigos, a lembrança da mãe, o namoro com Luzia que aceitou em termos suas explicações, só alguma coisa não estava bem, seu coração não era mais dela e a saudade de ver de novo aquele rosto o estava matando. Chegou a ir até àquela casa, mas não a via e não tinha como ficar rondando por ali, seria um cara suspeito. Luzia notava seu comportamento e estava desconfiada, não iria ter paciência, porque ele estava indiferente. Quando queria ir à sua casa para namorar como antes ele estava sempre arranjando uma desculpa; só uma vez transaram mas ele parecia pensar noutra pessoa e ela se sentiu péssima ao pensar que o seu desejo era por uma outra mulher. Desconfiava que havia acontecido sim, algo mais entre eles, porém essa garota não era dali e Nicolai também não parecia ter tempo para ficar desperdiçando dias de serviço para procurar por ela.
Venceslau também lhe garantira que ele não a tornara ver, porque os dois estavam sempre juntos quando tinham um tempo. Ele a esqueceria, deveria ter paciência.
Juliete era uma menina rica. Era filha única. Havia estudado desde criança nos bons colégios. Morava numa cidade média no interior de São Paulo. Gostava de sair com as amigas, de praticar esportes, de dançar. Estava com catorze anos quando aconteceu aquele acidente. Quando sua mãe havia ido buscá-la em uma fazenda de recreio e estava muita chuva, a neblina impediu sua visão e em uma ultrapassagem bateu de frente em um carro, vindo a falecer. Ela sofrera muitas fraturas nas duas pernas o que resultou ficar cinco meses no hospital da cidade se submetendo a várias cirurgias e depois de longo tempo, às sessões de fisioterapia para poder andar. Por seu esforço e pelo empenho do pai em vê-la de novo saudável e feliz e ela também querendo amenizar o seu sofrimento pela morte da mãe, qualquer progresso que fazia demonstrava para ele que faria mais ainda. E depois de cinco anos conseguia finalmente caminhar com a ajuda das muletas, dispensando enfim a cadeira de rodas e com esperança de cura completa.
Seus negócios no interior estavam dificultando sua presença perto de sua querida filha e então decidiu estabelecer sua fábrica na capital e assim ficou mais fácil; Depois de comprar uma casa colocou uma enfermeira também para cuidar de Juliete, e quando não podia, dona Magda é quem fazia companhia para ela. Era uma boa senhora, como uma segunda mãe para Juliete.
Ela continuou seus estudos com professores particulares nos primeiros tempos de convalescença, depois cursou o primeiro e segundo grau com facilidade, pois o que mais fazia era ficar em casa estudando, lendo, e no computador conversando com colegas. Esses a visitavam de vez em quando, mas não gostavam muito de ficar ali pois Juliete não queria sair, nem acompanhá-los em nada. Ela era uma garota solitária,
pensativa, mas pelo que havia passado julgava que tinha muita sorte e embora ficasse órfã de mãe, tinha o pai, não o deixara sozinho, então era bom ter continuado a viver e não pensava em mais ninguém a não ser na espera dele voltar do trabalho e fazer-lhe companhia. Saíam juntos, aos parques, ao cinema, ao teatro e ele queria que ela se enturmasse mais; dizia que ela era bonita, mas ela sabia que dificilmente alguém se interessaria por uma garota naquela situação.
Estava se preparando para o vestibular, queria fazer administração para ajudá-lo na empresa, o que já estava fazendo à algum tempo em casa, aprendendo sobre o que ele dizia que seria dela um dia. Já a havia levado com ele muitas vezes e ela gostaria de ir também à Tecelagem que há muito não visitava, mas seu pai estava sempre ocupado e não queria que ela fosse sozinha, só quando pudesse acompanhá-la, então frequentava somente os escritórios em um prédio à parte, no centro da cidade.
Na véspera do dia da enchente ficou combinado que iriam naquela manhã visitar a fábrica mas surgiu um compromisso inadiável e ele cancelara a ida, mas Julieta sabia que ele gostaria muito que ela fosse para escolher uma estampa para uma coleção e ela ligou dizendo que o chofer a levaria e poderiam se encontrar lá, mais tarde. E assim ficou combinado. Porém, a meio caminho de lá, interrompido o trânsito e faltando pouco para chegar, ela resolveu tomar um ônibus que circulava em pista especial como antes já havia feito, para provar a si mesma que era capaz de se virar em caso de necessidade, o que o pai concordava plenamente. Ele dizia:
_ Nada de constrangimento, muitos deficientes andam sozinhos por aí. Mas toma cuidado, não precisa ser sempre. Não deixa de ser cansativo para você. Peça para Jaime estar por perto; porém Jaime daquela vez, não pode fazer nada. Ficou impedido como todo mundo. Perdera a circular e ela de vista.
Depois do que aconteceu, já em casa, ela disse para Jaime.
_ Você não teve culpa. Pai, não se zangue com Jaime, eu é que quis.
_ Sim, filha! Está bem, está bem. Mas que não aconteça mais isso. Deixou-me muito nervoso esta sua demora e Jaime não sabia mais o que fazer de tanto procurá-la e me telefonando; acabei indo eu mesmo até lá e sabendo pela equipe de socorro que você estava voltando, aguardamos você aqui. Demoraste a chegar. Agora estás proibida de fazer isso de novo. Errei ao deixar você andar por aí como todo mundo.
_ Ora, pai! Eu não sou então como todo mundo? E começou a chorar o que não chorara então e o motivo era um só, por aquele garoto.
_ O que é isso, filha? Pare, não é o que quis dizer... Foi a enchente que causou o problema. Temos que ter cuidado para que você não saia com um tempo desses, querida. Mas você está com febre. Ficou tanto tempo com a roupa molhada.
Aí, se lembrou, finalmente.
_ E o rapaz, não quis entrar? Queria ter agradecido.
_ Não, foi embora, mas esqueceu a blusa.
_ Você está tossindo. Jaime telefone para Dr. Paschoal. Juliete precisa de cuidados.
Ela pensou:
_ Quase nem falou nele. Não entrou em detalhes, por quê? Gostaria tanto de falar mais sobre ele.
E assim durante dias Juliete ficou em casa, de cama, com começo de pneumonia e muito fraca para levantar para qualquer coisa. A enfermeira demonstrou muito carinho até ela poder novamente se locomover em suas muletas novas. Foi quando Nicolai desistiu de esperar vê-la e não mais voltou a rondar sua casa.
Juliete durante esse tempo pensava constantemente em Nicolai e naqueles momentos passados com ele, e quando um dia foi até o seu guarda-roupa e pegou a blusa que guardava com carinho - pois, não queria que ninguém a tocasse e nem a lavasse, queria sentir aquele cheiro dele, a sua presença - e revirando os bolsos achou um bilhete dobrado. Abriu e leu: “Nicolai, lhe encontro no Recreativo. Beijo com paixão, Luzia.”
O bar onde Venceslau trabalhava como garçom há algum tempo era frequentado pela rapaziada do bairro, por algumas garotas de programa, por alguns velhos inativos, por alguns caras suspeitos de tráfico e roubos que volta e meia eram procurados pela polícia e que sempre se envolviam em discussões e em pancadaria, por qualquer motivo ou sem motivo nenhum. Ficavam lá bebendo e jogando sinuca quase o dia todo. Venceslau como bom observador, já sabia distinguir os bons e os maus elementos e ouvia pedaços de conversa e sacava sempre qual era a deles, o que tramavam, mas ficava calado, temia que se demonstrasse que estava sabendo de alguma coisa, poderia sobrar para ele.
Estudava ainda na Escola da favela fazendo o segundo ano do segundo grau, também era muito dedicado ao futebol e jogava no time do Mangueirão e sendo bom de bola, todos o admiravam. Era um mulato de vinte e três anos, cabelo liso, traços bonitos, alto e muito namorador. Compunha música, tinha facilidade nisso e puxava um samba legal.
Seu sonho era gravar um CD ou ser profissional no futebol, reconhecido, famoso e cercado de garotas. Mas quem descobriria seu talento? Chegara da Bahia com a família e todos os quatro trabalhavam fora. A mãe e a irmã, faxineiras, o pai continuava como pedreiro e não lhe faltava serviço. Ele até ali havia demonstrado um pouco de preguiça nos estudos, depois conhecendo Nicolai matriculou-se também, resolveu concluir o ciclo enquanto continuava trabalhando, o que fazia desde adolescente em Salvador, mas o que mais gostava na época era fugir para os campinhos de terra junto com a molecada.
Quando seu pai disse para ela que ia fazer uma viagem, Luzia
que tinha seis anos de idade, não sabia que ele iria cumprir pena na prisão por tráfico de drogas, assaltos à mão armada e assassinatos. Sua mãe queria esconder isso dela, mas os colegas de classe falavam de quem ela era filha e ela sofreu muito com isso, amava muito seu pai e ele a aamva também e era muito carinhoso com ela e sua mãe trazendo-lhes muitos presentes, não deixando faltar nada em uma das melhores casas do Mangueirão.
Soube aos poucos dos muitos crimes que ele cometera. Sempre estivera envolvido juntamente com outros que haviam sido presos com ele. Depois de quatro anos de reclusão, em uma tentativa de fuga , havia aparecido em casa, e fora a sua despedida porque nunca mais o vira; disseram que os policiais o mataram em um tiroteio, e devia ser verdade, sua mãe nunca mais fora visitá-lo na prisão, embora não quisesse falar para Luzia, dizendo que ele continuava foragido.
Luzia não se ligou mais nisso e continuou a viver, mas seu rótulo era ser filha de um marginal.
Às vezes ele parava para pensar. Era quando punha a cabeça no travesseiro à noite. Longe de todos, em seu refúgio. Não se lembrava de quanto tempo em sua vida passara sozinho; se revoltava contra sua sina porque fora levado àquele caminho, o do crime. Não era um sujeito que não tinha consciência de que estava errado, mas fora conduzido e não tinha outa saída. Para viver agora era míster continuar, quem lhe daria outra chance? A chance primeira que teve fora um traficante que a colocara em suas mãos iniciando-o quando pequeno no tráfico de drogas e ele foi cada vez mais se envolvendo, do contrário seria morto pelos próprios bandidos ou pela polícia. E se fosse embora, e se fugisse para outra cidade? Por que não tomava essa decisão? Já a teria tomado, se não quisesse tanto ficar perto de sua irmã para protegê-la, se largasse tudo ela estaria ameaçada. Era constantemente sujeito à chantagem por aquele que o iniciara. Ela sim tivera sorte, fora dotada por aquele casal e vivia bem e ele de vez em quando, a observava de longe, nunca se atreveria a se aproximar e jamais iria comprometê-la, era segredo que possuía à sete chaves, ele seria sempre um anjo da guarda para ela. Ela jamais saberia na sua pacífica vida que tinha um irmão bandido, pois fora afastada dele ainda bebê. Ele se lembrava dela quando chorava de fome enquanto sua mãe saía para o trabalho noturno e ele a acalmava com a chupeta e a acalentava até adormecer. Um irmão marginal, traficante e ladrão. Por quê ele também não tivera a sorte dela? Ele fora abandonado nas ruas e criado ao Deus dará. Mas não foi Deus que lhe acudiu, mas o demônio, o pai de Luzia. Mais tarde soube que sua irmã morava nesta mesma capital e quem lhe havia contado era esse pai adotivo que tanto mal lhe fez e lhe fazia, gerando aquele medo de que se ainda estivesse vivo estaria rondando como um fantasma. Esse homem conhecera sua mãe prostituta que quisera se desfazer dos filhos. Então Peterson foi mantido por ele desde criança e iniciado no mundo do crime. Crescera praticamente junto com Luzia e era um dos elementos importantes da gang do Mangueirão.
Quando finalmente Juliete se viu em condições de sair, Jaime a acompanhava ao seu cursinho e também aos escritórios do pai, e ela fazia o melhor que podia entregando-se ao trabalho para esquecer Nicolai. Sabia que ele tinha uma namorada e então não quis procurá-lo, também ignorava o que fazer, como achá-lo. Um dia perguntou ao pai sobre aquela visita à fábrica que deixara de fazer devido a enchente e que a impedira de tomar parte na coleção que tanto queria estar à frente. Carla, a assistente,levara em casa alguns trabalhos, alguns figurinos e tecidos e elas estudaram juntas, mas Juliete não estava com cabeça para isso e deixou que ela escolhesse tudo. Mais próxima a data do desfile, passaria lá para escolherem juntas as modelos. Assim ficou combinado.
Seu pai a levou em uma tarde quando finalmente estavam os trabalhos quase concluídos. Juliete quando desceu do carro achou tudo muito bonito, como se fosse a primeira vez que ali estivesse. A fachada pintada de branco e azul anil, as grandes janelas, as grandes portas de aço, tomavam um quarteirão inteiro. Estacionaram o carro frente à diretoria e entraram na parte administrativa; estiveram no ambiente reservado à recepção e depois em um grande salão onde já estavam as meninas reunidas se preparando para exibir os vestidos nas estampas escolhidas. Assim depois de duas horas de desfile, aprovados os figurinos marcou-se a data das apresentações, seria em um espaço na Av. Paulista abrindo a coleção primavera - verão. Depois foi tudo acertado com os organizadores e assinados os contratos. Quando tudo encerrado seu pai lhe perguntou:
_ Gostaria de dar um passeio pela fábrica?
_ Sim, papai!
Foram em grupo visitar o interior da tecelagem. Nos diversos setores e em especial no setor em que os operários teciam, muitos faziam a inspeção e quando olhava as fiações e os teares acompanhando o trabalho de algumas tecelãs, notou alguém a alguma distância, à sua frente, lá bem adiante, de costas, cabelos lisos pretos, ombros largos, alto, magro, perto da porta do almoxarifado conversando com um operário. Não teve dúvida, quando ele virou, confirmou, era Nicolai. Seu coração acelerou de tal maneira que não se controlou e rápido disse ao pai que estava cansada. E se afastaram dali em direção à saída. Ela então quis apressar a sua ida para casa porque não aguentava de emoção. Chegando em casa, chorou trancada no quarto e percebeu imediatamente que se ele ali estava é que Deus queria que ele fizesse parte de sua vida e não iria recuar. Como o amava, com toda sua alma. Ela deveria ir atrás dele, mas será que ele a aceitaria se soubesse quem ela era? Ou…Não queria nem pensar, mas... Ficaria com ela por ela ser rica? Não, não poderia pensar essas coisas, do contrário sempre iria duvidar dele. Quis acreditar que poderia ser amada.
Mas o que mais queria agora era descobrir tudo sobre ele. Como gostaria de entrar lá e vê-lo de novo. Aquele rosto, aqueles olhos, aquela boca, aquele calor de seu corpo no seu… não, nunca iria esquecê-lo. Outa vez visitou a fábrica e nos escritórios teve acesso à sua ficha: Nicolai Durval de Souza, filho de Altair de souza e Cláudia Durval, nascido em Vitória, ES, vinte e seis anos, Segundo Grau completo, ajudante de almoxarifado, admitido em 15/07/11 - RG...CPF...Endereço - Rua dos Almirantes, 57, Mangueirão - SP- Salário… Horário de Trabalho -Turnos - Horário da manhã:... Horário da Tarde:…Juliete tirou uma cópia para ela, e disfarçadamente começou a perguntar sobre os funcionários confirmando horários de trabalho, turnos, se havia ônibus especiais para os empregados, ou outras conduções…E soube que aquela circular saía de Itaoca, passava por Mangueirão fazendo ponto perto da fábrica, e seguia para o centro da cidade, mas somente um funcionário ali descia, e era ele, Nicolai, porque do Mangueirão só ele ali trabalhava, então não tomava o ônibus exclusivo da fábrica.
Um dia decidida, resolveu tomar aquela circular novamente. Queria ver se ele a reconheceria. Jaime disse que ficaria por perto, mas ela disse que não se preocupasse que era para esperá-la no centro, desceria na Praça da Liberdade, e marcaram um ponto de encontro.
Subiu no ônibus exatamente no horário de turno de Nicolai daquele dia, e no local do primeiro encontro, observou os passageiros sentados. Havia acertado. Ele estava ali e seus olhos se encontraram, ela sentou-se no banco dos deficientes e ele que estava em um dos últimos bancos se levantou imediatamente e chegou até ela. Ficou de pé a seu lado. Ela sorriu e ele também. Disse:
_ Oi, como está? Tudo Bem?
_ Tudo!
_ Você não voltou. Fiquei todo esse tempo esperando que você viesse.
_ Guardei sua blusa, mas não sabia como entregar a você.
_ Não se preocupe. Estava querendo encontrar você, não pela blusa.
_ Você poderia ter esperado aquele dia. Saiu tão rápido.
_ É.
Ela pensou: Ficou com vergonha de ser pobre. Eu deveria ter vergonha de ser manca.
Eles se calaram por alguns instantes e depois de mergulharem seus olhos um no outro, ele disse:
_ Precisamos conversar melhor. Você vai descer logo?
_ Não, vou ao centro. E você está indo para o trabalho?
_ Sim, mas posso chegar na fábrica um pouco mais tarde. Preciso falar com você. Logo ali tem uma praça. Vamos descer e conversar?
Ela disse:
_Sim, vamos!
E os dois desceram com ajuda dele e caminharam até lá, lado a lado.
_ Qual é o seu nome? Perguntou ele.
_ Juliete.
_ Lindo nome, Juliete. O meu é Nicolai.
_ Ela disse:
_Também gosto do seu, Nicolai. E pensando: Eu já sei, pelo bilhete, pela sua ficha.
Sentaram em um banco. Estava uma manhã fresca, no ar o perfume de rosas. A conversa girou sobre ela e ele. Disse-lhe que morava com o pai e uma enfermeira cuidava dela; tinha aulas contínuas de fisioterapia e tinha esperanças de dispensar a ajuda das muletas. Contou-lhe do acidente da mãe. Fazia cursinho, pretendia tentar Administração de Empresas, mas atualmente trabalhava com modas em um escritório no centro e para lá estava indo no dia da enchente depois de ter visitado uma colega. Não mencionou fábrica, nem que era filha de um industrial. Ele disse que trabalhava em uma fábrica de tecidos como almoxarife, estava indo ao trabalho, mas primeiro queria estar com ela.
Pensando no bilhete, ela perguntou inesperadamente:
_Você tem namorada?
_ Não! Depois que a conheci a garota que estava comigo não representa mais nada para mim. Estou gostando muito de você Juliete, mas sou um cara pobre, não sei se devo insistir com você para ficarmos juntos, não posso dar-lhe a vida que você leva.
_ Não me importo com isso, também estou gostando de você, mas sei que você deve ter muitas garotas sadias, por que se interessaria por uma deficiente?
_ Nem pense nisso, o que importa é que estou gostando de você de verdade, mas quando seu pai souber onde moro vai querer que você se afaste de mim.
_ Quero conhecer onde você mora. Mas agora preciso ir. Dê-me seu endereço e amanhã irei até sua casa e levarei sua blusa.
_ Tem certeza disso? Não é lugar para você.
_ Eu quero ir. Quero provar para você que eu não me importo.
_ Amanhã é sábado e eu trabalho até às duas.
_ Então às três lhe encontro.
Entregou-lhe o endereço que ela já possuía. Ficou combinado e na despedida ele lhe roçou a boca com um suave beijo. Ela com os lábios trêmulos por esse primeiro beijo, olhos úmidos e com o coração aos pulos, tomou um táxi e ele foi caminhando feliz e sorridente até a fábrica. Ambos tinham certeza de seu amor e estavam esperançosos quanto ao futuro.
Na tarde seguinte com desculpa de ir ao shopping, Juliete pegou um táxi e dirigiu-se até o endereço de Nicolai. Era uma casa simples com paredes pintadas de bege, em um lugar de bastante movimento, pois era ponto comercial e ali as pessoas que faziam suas compras no sábado costumavam ficar conversando. O táxi esperou na porta enquanto ela apertava a campainha e alguns conhecidos de Nicolai que estavam na rua observavam a garota. Entre esses estava Luzia sentada em uns degraus conversando com um rapaz em uma moto, era Peterson.
_ Até que enfim apareceu. Sabia que eles estavam tendo um caso por isso não ligava mais para mim.
_ A garota é bonita, só que usa muletas. Mas tem pinta de bacana.
_ É, e ele está apaixonado, me despreza, não quer mais saber de mim. Vou me vingar. Preciso descobrir quem é ela. Você precisa me ajudar.
_ Xá comigo. Não é minha obrigação? Devo isso ao seu pai. E o que não faço por você? Quando sair, vou segui-la; de moto será mais fácil. Bom programa para um sábado. Dar uma de detetive. Porém vai ser divertido. E quem sabe lucrarei com isso.
_ Quero ir junto nessa…
_ Ok, garota!
_ Esperemos então…
Enquanto isso Nicolai abriu a porta e Juliete entrou. Nunca pensou que fosse capaz de procurar um homem em sua casa. Será que desta vez ele iria respeitá-la? Já lhe havia roubado um beijo. Ela mesma não sabia se seria capaz de não se entregar tal o amor e o desejo contido.
Retirou a blusa da sacola e com ela o bilhete que até então não havia dito nada sobre ele. Ele leu, sorriu e disse:
_ Teve mesmo como acreditar que eu estava comprometido, mas agora gostaria que você fosse minha namorada, pois não estou mais com ela. Sabia o meu nome, heim?
_ Sim, e pensava muito em você Nicolai.
_E eu não sabia o seu. Mas agora não me canso de dizer Juliete. Lindo seu nome. Pensei muito em lhe procurar, mas não tinha coragem. Bem, cheguei a ir lá algumas vezes, mas desisti.
_ Verdade? Eu estive doente. Não podia sair.
_ Agora estou me sentindo mais seguro, pois estou percebendo que você também sente o mesmo que eu sinto. E segurou suas mãos. Aquele toque foi como se algo estivesse a explodir dentro dela e com medo se afastou. Ele não retornou. Disse:
_Não tenha medo. Eu nunca me atreveria à qualquer coisa, preciso conversar com seu pai primeiro.
_ Eu falarei com ele. Agora que sei que você está querendo namorar comigo ele irá saber que é o que mais desejo.
_ E se ele não concordar?
_ Eu conheço meu pai; ele irá consentir quando conhecer você e gostará e confiará em você como eu estou gostando e confiando. Sabe que só quer que eu seja feliz? E com você estou sendo.
Então ela mesma o abraçou de mansinho com muita timidez e os dois continuaram a conversar, mas não rolou mais nada, pois sabiam que seria inevitável qualquer beijo que dessem. Juliete disse que precisava ir. O táxi estava na porta. Ele a acompanhou até ali e se despediram com aquele beijo suave na boca. O táxi seguiu e Nicolau ficou na porta olhando e quando entrou em casa uma moto partiu a toda velocidade. Era Peterson e Luzia que não queriam perder tempo.
Descobriram seu endereço. A partir desse dia ela e seu pai foram seguidos e colhidas informações sobre eles. Souberam que aquele senhor era um rico industrial e que Nicolai trabalhava em sua tecelagem. Etava sendo armada a vingança de Luzia e Peterson mais uma vez cumprindo o seu papel que lhe renderia um bom dinheiro.
Planejaram um sequestro. Isso para Peterson não era novidade. Era fácil, fácil.
Juliete não conseguia esconder a sua felicidade quando chegou em casa. Foi até o quarto descansar., depois quando o pai chegou lhe dissse que depois do jantar teria um assunto especial para conversar com ele. Ele notara a sua alegroia e ansiedade e antecipou a conversa.
_ Estou achando você diferente, desde há poucos dias; pensativa, mais alegre. Que novidade tem para me contar. Esteve no shopping? Fez boas compras? Encontrou-se com alguém em especial?
_ Pai, sabe aquele garoto que me salvou da enchente? Eu o encontrei e conversei com ele. Estamos namorando.
_ Quando foi isso? Falou o pai sobressaltado.
_ espero que o senhor o aceite. Ele é uma pessoa simples, mora em um bairro pobre, o Mangueirão, mas descobri que ele trabalha em sua tecelagem.
_ Como descobriu isso filha? Conte-me tudo.
E assimJuliete não escondeu nada do pai; inclusive disse do bilhete de Luzia, mas que ele não a namorava mais.
_ Preciso conhecer esse rapaz. Quero ter certeza do que você diz. Se for uma boa pessoa não há mal nenhum o namoro, uma experiência, já que demonstrou respeitá-la em duas ocasiões; mas que o ele achou de você ser filha do dono da fábrica?
_ Ele não sabe. Não lhe contei como eu descobri.
_ Mas filha, ele não gostará de você haver escondido isso dele. O que pensará?
_ Vou lhe contar. Mas queria a aprovação do senhor.
_ Amanha irei à fabrica e conversarei com ele.
_ Não pai, eu lhe falarei primeiro. Marcarei um encontro para quarta-feira depois de seu trabalho, e conversaremos.
E assim ficou acertado.
Enquanto isso Luzia e Peterson arquitetavam seu plano. Com a ajuda de cúmplices seguiriam todos os passos de Juliete e a raptariam.
Juliete e Nicolai agora conversavam mais, sempre mandavam recados pelo celular, não aguentavam de saudade.
Na fábrica o pai de Juliete estava já observando Nicolai e lhe agradava o rapaz. Astuciosamente recebia dos funcionários informações sobre o serviço de diversos deles e resolveu fazer uma seleção para avaliar seus desempenhos. Gostaria de dar-lhes uma chance de promoção, quem sabe ele em especial conseguiria mostrar ser capaz de ocupar cargo mais elevado. Então informou que faria alguns testes para avaliação e quem se interessasse poderia começar a frequentar os diversos cursos que a própria empresa forneceria em todas as áreas, inclusive na Administrativa. Todos então se empenharam nisso inclusive Nicolai que ficou satisfeito. Seria sua chance que veio em bom tempo.
Os cursos começariam na semana seguinte, depois do expediente. Ficaria mais difícil encontrar horário para encontrar Juliete mas isso ela entenderia. Era interesse de ambos.
Quando chegou a quarta-feira Juliete foi encontrar com Nicolai; estava muito insegura, ele notou sua inquietação.
_ Que foi Juliete, você está tremendo.
_ Sabe Nicolai. Tem algo que eu não falei para você. Peço que me perdoe.
_ Por quê, Juliete? É seu pai? Ele não me aceitou? Falou com ele?
_ Já falei com ele sim e ele disse que quer conhecê-lo, porém eu queria falar com você primeiro.
_ Disse-lhe que eu era pobre? Quase não tenho estudo? Moro em um bairro na periferia, no Mangueirão, famoso por ser habitado por marginais?
_ Pare Nicolai; lá existe gente trabalhadora, de bem, e você é uma dessas pessoas. Não sinta tanto preconceito por você mesmo. Eu não tenho preconceito por você, eu o amo.
_ E eu terei chance de subir. O dono da fábrica promoverá cursos para os operários e eu terei a minha chance. Falou isso hoje. Juro que vou melhorar, você vai ver. Juliete disse:
_ Eu acredito. Mas, sabe, não quero esconder isso mais. Um dia antes de nos vermos novamente fui à tecelagem e vi você.
_ Como? Você me viu? Por quê não falou comigo então? O que foi fazer lá?
_ Fazia parte do meu trabalho, visitar a fábrica e escolher os tecidos.
_ Você já foi outras vezes lá? É grande. Trabalho no setor de almoxarifado. Eu estava lá e não vi você. Que surpresa heim?…
_ Sim; perguntei pela sua ficha e consegui informar-me sobre você, por isso fui lhe encontrar no ônibus, pois sabia que todo dia ia para a fábrica nele.
_ Coincidência essa; como poderia imaginar que você ia encontrar-me justamente no meu trabalho. Creio que devo acreditar que o destino quis lhe trazer para perto de mim. Então...aí você viu que eu não era um vagabundo...e me procurou…
_ Não é verdade, eu sempre quis lhe encontrar, antes de vê-lo lá. Acredita, eu não sabia como. E … Bem…
_ O que foi?
_ Nada Nicolai. Preciso ir.
_ Então é verdade que seu pai quer me conhecer? Não sei se devo.
_ Deve sim Nicolai. Ligo para você. Marcaremos um horário. Podemos almoçar juntos.
_ Está bem Juliete. Também quero conhecer seu pai.
Despediram-se com o beijo de sempre. Nicolai meditativo. Ela está escondendo alguma coisa. Que coincidência é essa?
Juliete arrependeu-se de não ter dito tudo, que era rica, filha do seu patrão. Sentira um medo dele não querer mais nada com ela. Ficara meio nervoso, percebera que ela havia ocultado dele que sabia de tudo a seu respeito; quanta coisa ele poderia estar pensando e também passava pela sua cabeça, quantas dúvidas quanto à sinceridade, à confiança. E ela, agora queria ser pobre e não ter todas essas idéias. Escondera por ter medo que ele se interessasse pelo seu dinheiro? Ou a abandonasse porque se sentiria mais inferior ainda?
Quando Juliete chegava em casa foi abordada por um carro e uma moto. Jaime parou assustado, não teve como reagir; os bandidos mascarados apontaram uma arma para sua cabeça, retiraram Juliete violentamente do carro, a colocaram em outro e ela nem gritou, pois a dormeceram imediatamente e a levaram para um esconderijo em um local afastado da cidade.
Jaime extremamente nervoso chegou em casa e contou o ocorrido ao pai de Juliete que desconfiou imediatamente de Nicolai. Naquela mesma noite acionou detetives e a polícia secretamente para uma busca e prendê-lo como suspeito. Na manhã seguinte Nicolai, antes de sua chegada ao trabalho foi preso e o levaram para interrogatório. Ele não sabia de nada.
_ O que está acontecendo?
_ Você é suspeito de ter sequestrado essa jovem.
O investigador lhe mostrou a foto.
_Você a conhece?
_ É Juliete! O que houve? Como? Que está acontecendo? Nós nos falamos ontem à noite.
_ Estava namorando com essa moça? Fale. O que você fez desgraçado.
_ Juliete? Sim. É minha namorada. Quem pode ter feito isso? Ontem à noite conversamos. O que foi que lhe aconteceu? Não sei de nada. Eu a amo. Meu Deus! Não seria capaz de tocar nela. Estou sendo sincero. Juro!
_ Seus cúmplices irão se comunicar. Não é?
Na outra sala, os investigadores e o pai de Juliete:
_ Ele está envolvido, só pode ser obra dele.
_ Calma! Vamos aguardar. Não parece mal rapaz. Estamos na escuta e parece que temos uma pista.
_ Estão ligando.
_ Já o fizeram. Atenção! Estamos gravando.
_ Quanto vocês estão querendo para soltar minha filha? Não façam mal a ela… Não a machuquem… está bem. Eu pago qualquer coisa. Logo. Hoje mesmo arrumo esta quantia. Ela está bem? Falem… Sim, combinado. Nada de policiais. Estarei lá.
_ Coisa de profissionais. Marginais da pesada. Termos que ter cuidado. São gente do Mangueirão…
Voltaram ao interrogatório querendo informações. O pai de Juliete entrou, estava extremamente descontrolado. Queria agredir Nicolai. Queriam que ele se mantivesse calmo, para poder agir com cautela, não era hora de insensatez, mas o que ele falou era justo o que Nicolai não sabia.
_ Você, um funcionário meu que esperava lhe dar uma chance para fazer minha filha feliz e é um marginal.
_ Sua filha? Funcionário seu? É o dono da fábrica e pai de Juliete? E ela não me disse nada. Agora eu é que não quero nada com ela. Não estava me aceitando como eu sou e criou uns cursos para que eu pudesse me promover.
_ Idiota que você é. Queria lhe ajudar e você não reconhece isso. Ou você também sabia que ela era minha filha e fingiu ignorar isso e partiu para o sequestro para ganhar um bom dinheiro mais rapidamente, não é? Pedir dez milhões para o resgate de Juliete? Mas a sua vida não tem preço. Fico na ruína, entrego tudo que tenho mas quero ela viva. Ai de vocês se fizerem alguma coisa para ela.
Nicolai disse que não sabia quem eles eram, que não participaria disso nunca. Era sincero. Perguntassem a seu amigo Venceslau, seu amigo de confiança.. Que acreditassem nele.
Enquanto isso as investigações continuavam em segredo para preservar a vida de Juliete. O dinheiro seria entregue em um lugar onde somente existiam terrenos vazios e mato e o pai de Juliete deveria ir só. Entregariam a garota logo que conseguissem o dinheiro do resgate.
A polícia estava atenta e procurando uns indivíduos que sempre costumavam perambular pelo bairro do Mangueirão, sem ocupação e que por aqueles dias estavam desaparecidos. Desconfiavam deles, só podia ter sido gente de lá, pois Nicolai contou que Juliete ali estivera.
Venceslau sentiu a ausência de Nicolai, sabia que algo havia acontecido por sussurros no bar e ele atento. Foi procurado pelos policiais. Queria ajudar Nicolai mas estava com medo de ser descoberto pelos bandidos se denunciasse, mas mesmo assim marcou um encontro com o pai de Juliete. Este foi acompanhado pelo investigador pensando tomar precauções quanto a Venceslau, mas acreditou no que ele ouvira no barzinho: certa agitação de dois elementos que ofereciam perigo, e algo sobre sequestro no qual Luzia podia estar envolvida. Dizia que tinha certeza que Peterson era o cabeça. Haviam se reunido depois com um grupo justamente na véspera do sequestro e falavam sobre uma aleijada, o que fez com que o pai de Juliete segurasse para não chorar na frente deles.
Assim resolveram seguir os passos de Luzia e a prenderam para interrogatório; ela negava tudo, apesar de já estar constatada a sua participação, o que denotava nas palavras, no seu ciúme por Juliete e no seu despeito e, além do mais, Jaime reconhecera a moto de Peterson e ela ultimamente estava sempre o acompanhando, portanto ela sabia.
Ela não inocentou Nicolai, queria é dizer que ele sabia de tudo, mas Venceslau dizia que não. Que ela não estava dizendo a verdade. Seu amigo era inocente.
Embora ninguém dissesse que era Venceslau o informante ela tinha certeza que só podia ser ele, e este teria a sua vez. Estava perdido, mais cedo ou mais tarde. Seu destino estava traçado, e não era ser cantor ou um craque da bola. Seria com muita honra seu primeiro crime. Filha de peixe peixinho é, seu pai se orgulharia dela.
Juliete no cativeiro, em uma casa abandonada não sabia mais o que pensar. Não queria acreditar que Nicolai estava por trás de seu sequestro; ficava sem pensar em si mesma para pensar que não, ele não a trairia. Não sabia quem eu era. Mas se ele soubesse ou desconfiara? Não, ele foi bom comigo, mas se desde aquele momento em que me levou em casa, já pensasse nisso? E eu feito boba. Agora nada mais importa, se me matarem, eu não quero é saber que minhas desconfianças são verdadeiras. Devo acreditar na sua inocência.
Peterson e os bandidos sempre mascarados, a ameaçavam com o revólver:
_ Se o seu pai trouxer algum policial, você vai ver o que faremos com você.
Ela se julgou perdida. O plano deles poderia dar certo, mas não contavam que Luzia estava nas mãos da polícia e depois de pego o dinheiro eles seguissem os bandidos até o esconderijo. Mas o pai de Juliete preocupava-se com sua vida. Não poria a polícia em seu caminho. Perguntava-se:
_ Será que eles a soltariam depois que recebessem o dinheiro?
Chegou o dia da entrega do resgate e o pai de Juliete foi até o local combinado. Estacionou o seu carro e aguardou até que apareceu um outro carro de onde saíram duas pessoas mascaradas. Perguntou por Juliete. Entregue primeiro o dinheiro. Queria que ela estivesse ali, mas não a trouxeram. E os bandidos o ameaçaram, se formos seguidos imediatamente a matarão.
A polícia os seguia recuando sempre e observando de longe seus movimentos tentando descobrir para onde se dirigiam. Não poderiam arriscar a vida da garota.
_ Agora poderemos nos divertir com ela um pouco, disse um que estivera vigiando a garota. Não nos interessa mais, poderemos depois matá-la.
_ Você é guloso, não pode ver mulher, heim?
_ E depois convém dar cabo dela. Poderá nos reconhecer e dar trabalho.
Peterson que comandava o grupo e que recebera em mãos o dinheiro disse:
_ Não. Ninguém vai tocá-la.
O que fazia com que contivesse os bandidos é que Juliete lembrava sua irmã, as duas teriam a mesma idade e ele queria convencer a si mesmo que nele existia algum sentimento bom em seu coração. De seus olhos azuis saíram chispas de ódio e nojo daqueles seus comparsas.
_ Vamos embora! A polícia que a encontre. E por si mesmo uma extrema compaixão.
Abandonaram o local do esconderijo e fugiram algumas horas antes que a polícia depois de esquadrinhar toda aquela área localizasse onde Juliete se encontrava. Ela passara o resto da noite na escuridão do esconderijo em meio a um matagal cerrado.
Souberam por informantes do Mangueirão da prisão de Luzia e que seriam perseguidos, e não voltaram ali. A polícia já sabia os nomes dos outros componentes e conheciam Peterson muito bem. Só faltavam provas contra ele. Dessa vez ele não escaparia. Era esperto demais e não apareceu por ali, mas foram detidos alguns conhecidos marginais sem que fossem provadas essas participações no sequestro.
Luzia responderia em liberdade. O seu advogado trabalhara bem. Assim como o de Nicolai que fora inocentado. Devia isso ao pai de Juliete embora tivesse resistido a essa ajuda como pode, mas houvesse sido vencido. Se pai e nem Juliete haviam lhe pedido desculpas e não os vira mais. Deveria deletar essa fase de sua vida..
Venceslau que a denunciara estava na mira dos bandidos que frequentavam o bar. Tinham certeza que ele havia dado seus nomes à polícia que estava fazendo uma ronda rigorosa, sempre por perto, e ele sabia que corria risco de morte e foi aconselhado a sair dali. Era melhor, o quanto antes. Afastou-se algum tempo, viajou e quando soube que haviam prendido três elementos que confessaram ter participado, voltara, preocupava-se com sua família.
A vida seguia calma, porém não para Nicolai e Juliete.
Ela em casa, depois do susto, queria ver Nicolai. Não, não fora ele. Seu pai também agora acreditava. Era armação de Luzia e outros marginais. O delegado continuava as investigações e depois de vários interrogatórios concluíra que era o bando de Peterson; foi quando inocentaram definitivamente Nicolai.
O tempo continuou a passar e Nicolai não voltara mais à fábrica. Todos já sabiam o que havia acontecido. Os jornais noticiaram vários dias e seu nome ali estava, agora como vítima de falsas acusações. Estava agora mais conformado, não daria certo jamais, principalmente depois do que havia ocorrido com Juliete, mesmo provando sua inocência.
Quase três meses depois, em um dia em que saía da escola, pois voltara a frequentar o curso, e agia mais despreocupadamente, Venceslau foi atingido na cabeça por um tiro e morreu no local. Foi vingança dos traficantes diziam, estavam novamente em ação. A polícia havia relaxado suas buscas e eles já estavam de volta. Luzia estava satisfeita, cumprira sua promessa.
Nicolai depois da morte de seu melhor amigo constatou que ali não podia mais continuar, teria que buscar um outro lugar para viver, trabalhar. Iria embora para a Bahia onde estava sua mãe.
Já havia ido à Delegacia e disseram que poderia partir, ele era inocente naquela história, estava já provado, porém envolvido no processo, seria intimado e quando chegasse a data seria comunicado.
Nicolai, voltou para casa. Estava liberado, mas a vida para ele perdeu a graça, o sentido. Perdera seu trabalho e ela a quem amava. Que doce ilusão, quanta esperança perdida.
Precisava voltar à fábrica para assinar os papéis de demissão, já havia recebido telefonema para retornar, seu emprego estaria garantido, não tinham mais dúvidas quanto à sua honestidade, mas adiara o máximo, agora decidira, passaria hoje no horário determinado para assinar os papéis de demissão voluntária. Que esperança havia ainda? Juliete não ligara para ele, não o procurou e ele tampouco. Estavam ressentidos um com o outro.
Naquela manhã tomou o ônibus e enquanto fazia o trajeto até o trabalho Juliete o surpreendeu quando entrou no ônibus. Ele pensou que sonhava quando ela sorriu para ele ignorando o lugar que lhe era destinado e tentou chegar até ele. Ele levantou-se e a ajudou a sentar-se ao seu lado. Seus olhos estavam úmidos de lágrimas. Disse:
_ Eu quero que você volte para a fábrica. Duvidei de você. Me perdoe.
_ Não, não voltarei. Estou indo hoje para assinar os papéis e vou embora. Disse sério, mas foi interrompido, quando inesperadamente dois bandidos entraram no ônibus pela porta traseira e num piscar de olhos derramaram gasolina e atearam fogo. Imediatamente o ônibus estava em chamas e os passageiros começaram a quebrar os vidros e procuravam desesperadamente escapar pelas janelas e pela porta da frente enquanto o motorista pegava o extintor e alguns outros tentavam conter as chamas, o que estava ficando quase impossível tal o alvoroço e a rapidez com que o fogo se alastrava. Sorte que o ônibus todo já estava evacuado. Nicolai em atitude imediata havia pegado Juliete no colo e saíra apressadamente colocando-se os dois a salvo. Enquanto a polícia era acionada, todos gritavam desesperados e choravam na calçada pelo nervosismo que a situação impôs. Os delinquentes haviam sido apanhados pelos transeuntes que interceptaram a fuga e foram capturados, quase seriam linchados se a polícia não houvesse intervido. A onda de crimes não havia cessado. Em outros locais da cidade já haviam ocorrido fatos semelhantes com vítimas fatais. O lema agora era cada um que se cuide porque a situação estava fugindo ao controle da polícia. O governo teria que ser mais rigoroso com os bandidos, pedir reforços. Enfim, assegurar a vida da população.
Lá fora em um canto da parede, Juliete recostada ao ombro de Nicolai, sentia que não poderia mais viver, a não ser ao seu lado, e ele pensava a mesma coisa quando perceberam que ambos poderiam ter morrido sem ter se amado. Nicolai tomou um táxi. Desta vez não iria levá-la para casa, não tinha mais que esperar, sabia aonde iria com ela; levaria até àquela casa velha, suja, cheia de aranhas, ratos, baratas e lixo, onde tudo começou. Ela sorriu, estava exitada, tanto quanto ele. Mal chegaram, bateu com o pé na porta sem perceber que era nova. Uma idosa veio abrir. A casa estava limpa, havia morador agora. Ele disse para a senhora simpática;
_ É nosso refúgio.
A senhora disse;
_Sinto muito mesmo.
Eles olharam um para o outro e começaram a rir, se afastando.
Da escada lá em cima, Peterson gritou:
_ Quem era, mãe?
Escrito por Lavínia Ruby em 14/02/13. mariegracev

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