Assustador
Por L.R.
Janaína saiu cedo de casa. Morava em um casebre à beira da praia. Filha de um pescador que a esta hora da manhã já estava no mar com seus colegas de profissão. À tardinha retornavam alegres ou tristes dependendo da quantidade de peixes que haviam conseguido naquele dia. Com o mar calmo era boa a pescaria, com o mar revolto era difícil e era muito perigoso porque suas embarcações eram frágeis perante a fúria das ondas.
Janaína andou pela praia, deu o costumeiro mergulho, sentou-se na areia e ficou com o corpo exposto ao sol. Havia um silêncio reinante, deixara para trás a pequena aldeia que não via mais e então só era ela, o céu e o mar que no horizonte se encontravam.
Naquela hora que ali ficou, não sentiu vontade nenhuma de retornar, tão monótona era aquela vida, e esses pensamentos provocaram nela uma vontade indescritível de navegar por esse mar imenso, conhecer outras terras, outras gentes, viajar em um navio bem grande onde pudesse descobrir tudo aquilo que é oferecido mas que para ela parecia um sonho impossível. Seus olhos olharam para o céu. Quantas vezes acompanhara o voo de um avião, de um helicóptero traçando rápido o seu caminho, ganhando a distância e levando as pessoas a um novo destino.
Ela se sentiu pequena, inferior; por quê nascera ali naquela ilha? Por quê era fadada a viver naquele espaço restrito se ansiava por ser outra mulher e o seu coração era tão grande que não cabia e se expandia cada vez mais dentro do peito até quase uma explosão.
No horizonte viu um ponto. Foi aumentando cada vez mais e ela acompanhando com atenção para ver o que era.
Admirada ficou ao ver um barco ainda longe.
Não era hora dos pescadores regressarem mas o barco se aproximava cada vez mais da praia quando parou a uma pouca distância. Era um barco muito bonito. Grande, branco, escrito na proa: Liberty.
Janaína hipnotizada por aquela surpresa e muito curiosa ficou observando-o por um longo tempo. Depois não vendo ninguém e julgando que as pessoas lá estivessem dormindo, num ímpeto decidiu sua vida. Fugir dali e se esconder no barco e ir para outro lugar.
Sem excitar nadou até lá. Sorte havia uma escada de um lado, fixa no barco que ela escalou e procurou um lugar para se esconder debaixo de uma lona onde se ajeitou.
Passou algum tempo até que um homem apareceu e começou a conduzir o barco para mais longe, mar adentro, ligara um som e cantava junto.
Janaína ficou escondida ali por umas duas horas, pensando quando teria coragem para sair. Estava com fome e sede e resolveu falar com ele. Antes que saísse o homem se aproximou da lona e arrancou-a de cima dela dizendo:
_ Achei!
E sorrindo disse:
_ Você pensa que não a vi entrar? Imagine mesmo garota! Estava de olho em você desde que estava na praia. Me chamo Frank e você?
_Janaína.
_ Por quê você quis vir?
Ela pediu desculpas por ter invadido o barco.
_Não me leve de volta! Quero ir embora de onde vivo. Me deixe em qualquer lugar.
_ Venha comer, deve estar com fome.
Janaína saiu dali e sentou-se com ele que a observava e ela ficou encabulada diante daquele olhar mas agarrou a comida e tratou de matar a fome. O barco avançava cada vez mais até que passaram por muitas canoas de pescadores que já estavam se preparando para voltar.
Janaína reconheceu seu pai numa delas. Sentiu um aperto no coração, despediu-se com o olhar até ficar bem diminuta a imagem e soube que nunca mais o veria. Se deu conta do que tinha feito. Uma loucura talvez? Ir embora para o desconhecido com um desconhecido.
Assim passou-se um tempo quando subindo as escadas um jovem apareceu no convés.
_ Com quem está conversando? Acordei e… Quem é essa? Uma mulher? Que faz uma mulher aqui, amor?
_ É uma invasora, mas vai com a gente.
_ Sim?
_ Por que não?
_ Desculpe-me! Queria só sair…
_ Ela quer ganhar o mundo. Também que tédio viver em uma ilha. E esse barco é meu. Que que tem. Você fica sossegado, Dark! Não muda nada, meu caro! Venha aqui! Por que está com ciúmes?
Janaína perguntou:
_ Onde é o banheiro?
Ele disse:
_ Desce lá!
Janaína ia descendo quando o jovem:
_Vou com você! Posso lhe emprestar algumas roupas. Estás toda molhada.
Estava escurecendo e os três na proa do barco, observando o crepúsculo.
_ Hoje vai fazer lua cheia, uma ótima noite para um amor a três.
Janaína olhou aqueles olhos e foi assustador. Nunca poderia pensar que aqueles dois fossem se transformar com a lua cheia. Por isso eles diziam que viviam eternamente naquele barco no mar..
Sim fora assustador, inesquecível e inimaginável aquela noite com aqueles vampiros. Quando estava amanhecendo, sem nenhuma força, esgotada, ela se jogou no mar.
Escrito por Lavínia Ruby em 13/03/2021. Maria das Graças.

Nenhum comentário:
Postar um comentário